Banner Portal
Em busca de conforto lingüístico e metodológico no acre indígena
Remoto

Palavras-chave

Formação de professores-pesquisadores indígenas. Descolonização de metodologias de pesquisa. Interculturalidade

Como Citar

MAHER, Terezinha Machado. Em busca de conforto lingüístico e metodológico no acre indígena. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 47, n. 2, p. 409–428, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645173. Acesso em: 7 maio. 2024.

Resumo

Neste texto, pretende-se, em última instância, refletir sobre os modos como as pesquisas são, sempre, condicionadas por representações culturalmente determinadas. Para tanto, considerarei práticas discursivas em um contexto de formação continuada de professores-pesquisadores indígenas no Estado do Acre. Atualmente envolvidos com a condução de pesquisas de cunho sociolingüístico, esses professores esperam produzir conhecimento que os ajudem a formular políticas lingüísticas locais favoráveis ao fortalecimento das línguas tradicionais de suas comunidades de fala. O foco de análise recairá, especificamente, sobre algumas visões conflitantes entre os modos como esses professores e sua formadora não-indígena avaliam instrumentos de pesquisa e entendem como devem se dar os processos de geração de dados. Além de argumentar que a não consideração dessas diferenças de perspectivas podem se constituir em impedimento importante para a condução do tipo de investigação desejada, pretendo, neste texto, chamar a atenção para o fato de que, por um lado, a categoria local precisa ser sempre lida com parcimônia e, por outro, conceitos como etnocentrismo ou grafocentrismo nem sempre são suficientes para explicar todos os complexos problemas de que se investem as relações interculturais. A expectativa é que este texto possa, de alguma maneira, contribuir para a formação de professores-pesquisadores no país e, sobretudo, para a nossa compreensão da complexidade imposta, contemporaneamente, pela interculturalidade

ABSTRACT:

The aim of this paper is to reflect upon the ways research processes are conditioned by culturally determined representations. In order to do so, discursive practices in an in-service indigenous teacher-researcher educational program in the state of Acre will be examined. Presently involved in local sociolinguistic research projects, these teachers hope to produce knowledge that will help them devise linguistic planning capable of strengthening their heritage languages. The analysis will specifically focus on some conflicting views these teachers-researchers and their teacher educator have about how research instruments should be devised and research data processes should be conducted. It is argued, as a final consideration, that disregarding such different perspectives may result in serious constraints for the intended investigations. It is also claimed that references to the local should always be interpreted with a grain of salt and that ethnocentrism and graphocentrism are insufficient concepts to explain all conflicts embedded in intercultural relations. This paper hopes to somehow contribute to teacher-researcher education programs in our county, as well as to our understanding of the complex role intercultural interpretations play in minority languages policy and planning.

Keywords: indigenous teacher-researcher education; decolonizing research methodologies; intercultural relations.

Remoto

Referências

BRASIL. (1998). Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC.

BRASIL. (2002a). Referenciais para a Formação de Professores Indígenas. Brasília: MEC.

BRASIL. (2002b). As Leis e a Educação Escolar Indígena. Brasília, MEC/SEE. Programa Parâmetros em Ação; Educação Escolar Indígena. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/sef/indigena/materiais/ Legislacaomiolo.pdf>.

BURITY, J. (2001). Globalização e Identidade: desafios do multiculturalismo. Disponível em , acessado em 23/01/2005.

CALVET, L. (2007). As Políticas Lingüísticas. São Paulo: Parábola Editora/ Florianópolis: IPOL.

CANAGARAJAH, S. (2005). Reconstructing Local Knowledge, Reconfiguring Language Studies. In: Canagarajah, S. (org.) Reclaiming the Local in Language Policy and Practice. New Jersey: Lawrence Erlgaum Associates.

CAMERON, D., FRAZER, HARVEY, P., RAMPTON, M.B.H. e RICHARDSON, K. (1992). Researching Language - Issues of Power and Method. Londres: Routledge, Chapman e Hall.

CAVALCANTI, M. C. (2006). Um Olhar Metateórico e Metametodológico em Pesquisa em Lingüística Aplicada: implicações étnicas e políticas. In: Moita Lopes, L. P. (org.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, p. 233-252.

COOPER, R. L. (1989). Language Planning and Social Change. Cambridge: Cambridge University Press.

CRAWFORD, J. (1996). Seven Hypothesis on Language Loss: causes and cures. In: Cantoni, G. (org.) Stabilizing Indigenous Language. Northern Arizona University Center for Excellence in Education Monograph Series. Disponível em <http://www.ncela.gwu.edu/pubs/stabilize/ii-policy/ hypotheses.htm>, acessado em 22/11/2005.

CRYSTAL, D. Language Death. (2000). Cambridge: Cambridge University Press. Disponível em , acessado em 10/09/2005.

ERICKSON, F. (1986). Qualitative Methods in Research on Teaching. In: Wittrock. M.C. (org.) Handbook of Research on Teaching. N.Y.: MacMillan.

FISHMAN, J. (1991). Reversing Language Shift – theoretical and empirical foundations of assistance to threatened languages. Clevedon: Multilingual Matters.

GRUPIONI, L. D. B. (2003). Experiências e Desafios na Formação de Professores Indígenas no Brasil.

Em Aberto, Brasília, v. 20, n. 76, p.13-18.

HINTON, L. (2001). Language Revitalization: an overview. In: Hinton, L. e Hale, K. (orgs). The Green Book of Language Revitalization in Practice. San Diego, Califórnia: Academic Press, p. 3-18.

HORNBERGER, N. H. (1996). Language Planning from the Bottom Up. In: Hornberger, N. H. (org.) Indigenous Literacies in the Americas: language planning from the bottom up. Berlim: Mouton de Gruyter.

KRAUSS, M. (1998). The Condition of Native North American Languages: the need for realistic assessment and action. International Journal of the Sociology of Language,132, p. 9-21.

LÓPEZ, C. F. (2005). La EIB en Bolivia: um modelo para armar. La Paz, Bolívia: PINSEIB / PROEIBAndes / Plural Editores.

MAHER, T. M. (1996). Ser Professor Sendo Índio: Questões de Lingua(gem) e Identidade. Tese de Doutorado. UNICAMP, Campinas, SP (inédita).

_______. (2006a). Uma Pequena Grande Luta: a escrita e o destino das línguas indígenas acreanas. In: Mota, K. e Scheyerl, D. (orgs.) Espaços Lingüísticos: resistências e expansões. Salvador: EDUFBA, p. 285-310.

_______. (2006b). Formação de Professores Indígenas: uma discussão introdutória. In: Grupioni, L.D.B.

(org.) Formação de Professores Indígenas: repensando trajetórias. Brasília: MEC/SECAD, p. 11- 38.

_______. (2007). A Educação do Entorno para a Interculturalidade e o Plurilinguismo. In: Kleiman, A.B.

e Cavalcanti, M. C. (orgs.) Lingüística Aplicada – suas Faces e Interfaces. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 255-270.

MARCHESE, D; UCHOA. M. L. (2006). Relatório de Viagem à Terra Indígena Kaxinawá Praia do Carapanã. Rio Branco: Arquivos da Comissão Pró-Índio do Acre, agosto (mímeo).

McCARTY, T. (1998). Schooling, Resistance, and American Indian Languages. International Journal of the Sociology of Language: 132 MONTE, N. L. (1993). Repensando a Educação Bilíngüe e Intercultural: o caso do Acre. In: Seki, L. (org.) Lingüística Indígena e Educação na América Latina. Campinas, S.P.: Editora da Unicamp.

MONSERRAT, R. M. F. (2006). Política e Planejamento Lingüístico nas Sociedades Indígenas do Brasil Hoje: o espaço e o futuro das línguas indígenas. In: L. D. B. Grupioni (org.) Formação de Professores Indígenas: repensando trajetórias. Brasília: MEC/SECAD, p. 131-153.

NINCAO, O. S. (2008). Kóho Yoko Hovóvo / O Tuiuiú e o Sapo: biletramento, identidade e política lingüística na formação continuada de professores Terena. Tese de Doutorado em Lingüística plicada. UNICAMP, Campinas, SP (inédita).

OLIVEIRA, G. M. (org.) (2003) Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos – Novas Perspectivas em Políticas Lingüísticas. Campinas, S. P.: Mercado de Letras, ALB; Florianópolis: IPOL.

RODRIGUES, A. D. (2000). Panorama das Línguas Indígenas da Amazônia. In: Queixalós, F. e RenaultLescure, O. (orgs.) As Línguas Amazônicas Hoje. São Paulo: Instituto Socioambiental, p.15-28.

SICHRA, I. (2003). La vitalidad del quéchua: lengua y sociedad em dos privincias de Cochabamba. La Paz: PROEIB-Andes/Plural Editores.

SKLIAR, C. (2003). Pedagogia (Improvável) da Diferença: e se o outro não estivesse aí? Tradução de Giane Lessa. Rio de Janeiro: DP&A.

STENZEL, K. (2006). Lenguas y tradiciones orales en la Amazônia brasileña. In: F. Vacheron e Betancourt, G. (orgs.) Lenguas y tradiciones orales de la Amazônia. ¿Diversidad em peligro?. Havana: Fondo Editorial Casa de las Américas, p. 71-121.

TUHIWAI SMITH, L. (1999). Decolonizing Methodologies: research and indigenous peoples. LondonOtago: Zed Books, University of Otago Press.

WEBER, I. (2005a). Relatório de Viagem de Assessoria à Terra Indígena Yawanawá do Rio Gregório. Rio Branco: Arquivos da Comissão Pró-Índio do Acre, julho (mímeo).

_______. (2005b). Relatório de Viagem de Acessoria a Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá. Rio Branco: Arquivos da Comissão Pró-Índio do Acre, dezembro (mímeo).

WILKINS, D. P. (2000). Even with the Best of Intentions…: some pitfalls in the fight for linguistic and cultural survival - one view of the Australian experience. In: Queixalós, F. e Renault-Lescure, O.

(orgs.) As Línguas Amazônicas Hoje. São Paulo: Instituto Socioambiental, p. 61-84.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.