Banner Portal
Geopolíticas de escrita acadêmica em zonas de contato: problematizando representações e práticas de estudantes indígenas
Remoto

Palavras-chave

Geopolítica da escrita acadêmica. Zonas de contato
descolonização do letramento acadêmico

Como Citar

NASCIMENTO, André Marques. Geopolíticas de escrita acadêmica em zonas de contato: problematizando representações e práticas de estudantes indígenas. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 53, n. 2, p. 267–297, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645426. Acesso em: 1 maio. 2024.

Resumo

Analiso aqui discursos expressos em produções escritas por professores e professoras indígenas concluintes do curso de licenciatura em Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás, buscando dar sentido às suas concepções e representações de escrita acadêmica nas zonas de contato. Estes discursos são problematizados desde perspectivas teóricas decoloniais latino-americanas em intersecção com estudos críticos do letramento e do letramento acadêmico. De forma geral, estes discursos apontam para a naturalização de uma ordem hierárquica racial, consequentemente ontológica, cultural e epistemológica, no qual o domínio de certas práticas de letramento e a autoridade para usá-las no contexto acadêmico é ainda critério válido de classificação de grupos culturalmente diferentes. Ao destacar a intrínseca relação entre configurações textuais específicas e altamente valorizadas de letramento acadêmico e a forma de produção de conhecimento de matriz angloeurocêntrica, busco situar tais práticas de escrita no projeto mais amplo de modernidade/colonialidade e, coerentemente com o referencial adotado, busco apontar alternativas viáveis para a descolonização destas práticas, como a abertura da academia para novas possibilidades epistemológicas e, consequentemente, para novas formas de produção e expressão de conhecimentos, especialmente em contextos que se propõem interculturais. Nesta direção, sumarizo perspectivas indígenas e não-indígenas críticas contemporâneas sobre a relação entre formas de conhecimentos situados e outras possibilidades de apropriação da escrita acadêmica que consigam transmitir a localização geo-corpo-política de outras formas de pensar, conhecer e significar o mundo.

ABSTRACT

In this work, I analyse written discourses by Indigenous teachers graduating in an Intercultural Education course, at Federal University of Goias, and I try to make critical sense of their conceptions and representations of academic writing in contact zones. These discourses are problematized in this article since Latin American decolonial theoretical perspectives intersected with assumptions form literacy and academic literacy critical studies. In the overall, these discourses point out to a naturalization of a racial hierarchical order, consequently, a ontological, epistemological and cultural one, in which mastering certain literacy practices and the authority to use them in the academic context is still a valid criterion for classification of groups culturally different. In highlighting an intrinsic relationship between the specific and highly valued textual configurations of academic literacy and the form of knowledge production from an Anglo-eurocentric matrix of power, I seek to situate such writing practices in the broader project of modernity/ coloniality and, consistent with the framework adopted, I seek for alternatives and viable ways for decolonization of these practices, such as the opening of the academy for new epistemological possibilities and hence to new forms of production and expression of knowledge, especially in intercultural contexts. In this direction, I sum up Indigenous and no Indigenous contemporary critical perspectives on the relationship between forms of situated knowledge and other possibilities of appropriation of academic writing so that they can transmit more clearly a geo-body politics location and then convey other ways of thinking, knowing and mean the world.

Keywords: geopolitics of academic writing; contact zones; decolonization of academic literacy

Remoto

Referências

ANZALDÚA, G. (1999). Borderlands/La Frontera: The new mestiza. 2nd ed. San Francisco: Aunt Lute Books.

BAUMAN, R.; BRIGGS, C. (2003).Voices of Modernity: language ideologies and the politics of inequality. Cambridge: Cambridge University Press.

BLOMMAERT, J. (2010). The sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press.

BOONE, E. H.; MIGNOLO, W. D. (eds.). (1994). Writing without words: Alternative literacies in Mesoamerica & the Andes. Durhan/London: Duke University Press.

BROWN, L.; STREGA, S. (2005). Introduction: Transgressive possibilities. In: BROWN, L.; STREGA, S. (eds.). Research as resistance: critical, Indigenous & anti-oppressive approaches.

Toronto: Canadian Scholars’ Press, p. 1-17.

CALVET, L. (2011). Tradição oral e tradição escrita. Trad. de Waldemar Ferreira Neto e Maressa de Freitas Vieira. São Paulo: Parábola.

CANAGARAJAH, A. S. (2002). A geopolitics of academic writing. Pittsburgh: Pittsburgh University Press.

CASTRO, E. V. (1996) Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, Rio de Janeiro , v. 2, n. 2, out., p.115-144.

DUSSEL, E. (2000). Europa, modernidad y eurocentrismo. In: LANDER, E. (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo e ciencias sociales – Perspectivas latino americanas. Buenos Aires: CLACSO, p. 39-51.

ESCOBAR, A. (2003). “Mundos y conocimientos de otro modo”: El programa de investigación de modernidad/colonialidad latinoamericano. Tabula Rasa, n. 1, enero/ diciembre, p. 51-86.

FREIRE, Paulo. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 42ª reimp. São Paulo: Paz e Terra.

GILMORE, P.; SMITH, D. M. (2005). Seizing academic power: Indigenous subaltern voices, metaliteracy, and counternarratives in Higher Education. In: MACCARTY, Teresa L. Language, literacy and power in schooling. New Jersey/London: Lawrence Erlbaum, p. 67-88.

GUARANY SILVA, E. (2013). Hábitos alimentares do povo Guarani. Trabalho de conclusão de curso. Licenciatura em Educação Intercultural. Goiânia: UFG.

HART, M. A. (2010). Indigenous worldviews, knowledge, and research: the development of an indigenous research paradigm. Journal of indigenous voices in social work, vol. 1, n.º1, fev., p. 1-16.

hooks, bell. (1994). Teaching to transgress: education as the practice of freedom. New York/London: Routledge.

JACQUEMET, M. (2005). Transidiomatic practices: language and power in the age of globalization. Language and communication, 25, p. 257-277.

KULICK, D.; STROUD, C. (1990). Christianity, cargo and ideas of self: patterns of literacy in a Papua New Guinean village. Man, vol. 25, n. 2, p. 286-304.

LANDER, E. (2000). Ciencias sociales: saberes coloniales e eurocéntricos. In: LANDER, E.

(comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo e ciencias sociales – Perspectivas latino americanas.

Buenos Aires: CLACSO, p. 9-38.

MACCARTY, T. L. (2005). Introtuction: The continuing power of the “Great Divide”.

In: MACCARTY, T. L. Language, literacy and power in schooling. New Jersey/London: Lawrence Erlbaum, p. xv-xxvii.

MALDONADO-TORRES, N. (2007). Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (Orgs.) El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, p. 127-167.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. (2003). Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas.

MIGNOLO, W. D. (1998). The darker side of the Renaissance: literacy, territoriality, e colonization. 4th ed. Ann Arbor: The University of Michigan Press.

MIGNOLO, W. D. (2000). Local/histories/Global designs: coloniality, subaltern knowledges, and border thinking. Princeton: Princeton University Press.

MIGNOLO, W. D. (2010). Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del signo.

MIGNOLO, W. D. (2011). The darker side of Western Modernity: global futures, decolonial options.

Durham/London: Duke University Press.

MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. (2010). Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola.

NASCIMENTO, A. M. Português Intercultural: fundamentos para a educação linguística de professores e professoras indígenas em formação superior específica numa perspectiva intercultural. München: Lincom Academic Publishers, 2012.

NASCIMENTO, A. M. Ideologias e práticas linguísticas contra-hegemônicas na produção de rap indígena. Signótica, vol. 25, n. 2, 2013. p. 259-281.

NASCIMENTO, A. M. O potencial contra-hegemônico do rap indígena na América Latina sob a perspectiva decolonial. Polifonia, v.21, n. 29, 2014, p. 91-127.

NASCIMENTO, A. M. Apontamentos críticos sobre concepções de linguagem na formação superior de docentes indígenas: diálogo intercultural como diálogo interepistêmico.

Muitas Vozes, vol. 1, n.3, 2014 (no prelo).

OLIVEIRA, I. B.; GERALDI, J. W. (2010). Narrativas: outros conhecimentos, outras formas de expressão. In: OLIVEIRA, I. B. (orga.). Narrativas: outros conhecimentos, outras formas de expressão. Petrópolis, RJ/ Rio de Janeiro: DP et Alii/ FAPERJ, p. 13-28.

PAYNE, G.; PAYNE, J. (2004). Key concepts in social research. London: Sag PENTEADO, H. D. (2010a). A relação docência/ciência sob a perspectiva da pesquisaação.

In: PENTEADO, H. D.; GARRIDO, E. (orgas.). Pesquisa-ensino: a comunicação escolar na formação do professor. Paulo: Paulinas, p. 22-31.

PENTEADO, H. D. (2010b). Pesquisa-ensino: uma modalidade de pesquisa-ação. In: PENTEADO, H. D.; GARRIDO, E. (orgas.). Pesquisa-ensino: a comunicação escolar na formação do professor. Paulo: Paulinas, p. 33-44.

PRATT, M. L. (1991). Arts of contact zone. Profession, p. 33-40.

PRATT, M. L. (2012). «If English was good enough for Jesus...»: monolinguismo e mala fe.

Critical Multilingualism Studies. vol. 1, n.1, p. 12-30.

PRATT, M. L. (2013). Utopias linguísticas. Trad. de André Marques do Nascimento e Joana Plaza Pinto. Trabalhos em Linguística Aplicada, vol. 52, n. 2, 1987, p. 437-459.

QUIJANO, A. (2000a). Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, Edgardo. (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales.

Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, p. 193-238.

QUIJANO, A. (2000b). Colonialidad del poder y clasificacion social. Journal of World-Systems Research, vol. 2, summer/fall, p. 342-386.

RABASA, J. (2008). Thinking Europe in Indian categories, or, “Tell me the story of how I conquered you”. In: MORAÑA, M.; DUSSEL, E.; JÁUREGUI, C. (eds.). Coloniality at large: Latin America and the Postcolonial debate. Durham/London: Duke University Press, p. 43-76.

SCOLLON, R.; SCOLLON, S. W. (2001). Intercultural Communication: a discourse approach.

nd ed. Oxford: Blackwell Publishers.

SIGNORINI, I. (2008). Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise.

In: SIGNORINI, Inês. (orga.). Situar a linguagem. São Paulo: Parábola, p. 117-148.

SOUZA, L. M. T. M. (2001). Para uma ecologia da escrita indígena: a escrita multimodal Kaxinawá. In: SIGNORINI, Inês. (orga.). Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 167-192.

SOUZA, L. M. T. M. (2007). Entering a culture quietly: writing and cultural survival in indigenous education in Brazil. In: MAKONI, S.; PENNYCOOK, A. (eds.).

Disinventing and reconstituting languages. Clevedon, Buffalo, Toronto: Multilingual Matters, p. 135-169.

STREET, B. (2006). Perspectivas interculturais sobre o letramento. Tradução Marcos Bagno. Linguística e Filologia Portuguesa, n. 8, p. 465-488.

TLOSTANOVA, M. V.; MIGNOLO, W. D. (2012). Learning to unlearn: decolonial reflections from Eurasia and the Americas. Columbus: The Ohio State University Press.

TUHIWAI SMITH, L. (1999). Decolonizing methodologies: research and indigenous peoples. London, New York/Dunedin: Zed Books/University of Otago Press.

TXEBUARÈ KARAJÁ, V. (2013). Artesanato feminino do povo Xambioá: Likoko. Trabalho de conclusão de curso. Licenciatura em Educação Intercultural. Goiânia: UFG ZAVALA, V. (2010). Quem está dizendo isso?: Letramento acadêmico, identidade e poder no ensino superior. Trad. Luanda Sito e Marília C. Valsechi. In: VÓVIO, C.; SITO, L.; DE GRANDE, P. (orgas.). Letramentos: rupturas, deslocamentos e repercussões de pesquisa em linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 71-95.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.