Banner Portal
“Se o índio for original”: a negação da coetaneidade como condição para uma indianidade autêntica na mídia e nos estudos da linguagem no Brasil
PDF

Palavras-chave

Negação da coetaneidade. Povos indígenas. Identidade.

Como Citar

NASCIMENTO, André Marques do. “Se o índio for original”: a negação da coetaneidade como condição para uma indianidade autêntica na mídia e nos estudos da linguagem no Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 57, n. 3, p. 1413–1442, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8653560. Acesso em: 27 jul. 2024.

Resumo

Neste artigo, abordo a ideia de negação da coetaneidade e como ela toma forma em discursos da mídia e em pressupostos epistemológicos dos estudos da linguagem para os quais uma identidade indígena autêntica se faz importante. Para isso, inicio a discussão apresentando um caso radical e violento de materialização da negação da coetaneidade indígena na imprensa brasileira e busco, na sequência, aprofundar a compreensão desse conceito, desde seu contexto original de crítica interna à Antropologia, até sua apropriação e ampliação pelos estudos decoloniais. Desde esse aparato teórico, apresento instâncias de sua implementação em outros discursos jornalísticos hegemônicos no Brasil com os objetivos de demonstrar como essa negação é estratégica e atende a interesses supralocais que fazem com circulem facilmente na sociedade. Finalmente, apresento a hipótese de que a negação da coetaneidade é implementada, talvez de forma mais sutil e naturalizada, em pressupostos teóricos dos estudos da linguagem que se dedicam às línguas e situações sociolinguísticas indígenas. Para isso, relato uma pesquisa empírica, de caráter metateórico, cujos resultados tendem a confirmar essa hipótese.
PDF

Referências

ABREU. K. (2012). Uma antropologia imóvel. Folha de São Paulo. Mercado, 17 de novembro. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/78428-uma-antropologia-imovel.shtml#_=_>. Acesso em: 15 set. 2018.

ARAÚJO, J. P. M.; NASCIMENTO, A. M. (2018). Um olhar crítico sobre globalização e contemporaneidade indígena nos estudos da linguagem. Relatório Final do Programa Institucional de Bolsas Iniciação Científica (PIBIC). Universidade Federal de Goiás. Goiânia. 2018. Inédito.

BASTOS, L. C.; LOPES, L. P. M. (2011). (orgs.). Estudos de identidade: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro: Garamond.

BAUMAN, R.; BRIGGS, C. (2003). Voices of modernity: language ideologies and the politics of inequality. Cambridge: Cambridge University Press.

BLOMMAERT, J. (2005). Discourse: a critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press.

BLOMMAERT, J. (2006). Language Ideology. In: ENCYCLOPEDIA of Language and Linguistics. [S.l.]: Elsevier, v. 6. p. 510-522.

BLOMMAERT, J. (2010). The sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press.

BRIONES, C. (2010). “Nuestra lucha recién comienza”: experiencias de pertenencia y de formaciones mapuches de yo. In: CADENA, M.; STARN, O. (2010). Introducción. In: CADENA, M.; STARN, O. (eds.). Indigeneidades contemporáneas: cultura, política y globalización. Lima: IEP/IFEA. p.115-137.

BUCHOLTZ, M.; HALL, K. (2004). Language and identity. In: DURANTI, A. (Ed.). A companion to linguistic anthropology. Malden, MA, USA: Blackwell Publishing. p. 369-394.

CADENA, M.; STARN, O. (2010). Introducción. In: CADENA, M.; STARN, O. (eds.). Indigeneidades contemporáneas: cultura, política y globalización. Lima: IEP/IFEA. p. 9-42.

CANAGARAJAH, S. (2013) Translingual Practice: Global Englishes and Cosmopolitan Relations. New York: Routledge.

COUPLAND, N. (2010). (ed). The Handbook of Language and Globalization. Oxford: Blackwell.

COUTINHO, L.; PAULIN, I.; MEDEIROS, J. (2010). A farra da Antropologia oportunista. Revista VEJA. Ano 43, n. 18, 05 de maio. p. 154-161.

DELGADO, P. S.; JESUS, N. T. (2018). Povos Indígenas no Brasil: Perspectiva no fortalecimento de lutas e combate ao preconceito por meio do audiovisual. Curitiba, PR: Brazil Publishing.

DUSSEL, E. (2000). Europa, modernidad y eurocentrismo. In: LANDER, E. (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo e ciencias sociales – Perspectivas latino americanas. Buenos Aires: CLACSO. p. 39-51.

ESCOBAR, A. (2003). “Mundos y conocimientos de otro modo”: El programa de investigación de modernidad/colonialidad latinoamericano. Tabula Rasa, n. 1, enero/diciembre. p. 51-86.

FABIAN, Johannes. (1983). Time and the Other: how Anthropology makes its object. New York: Columbia University Press.

FOLHA DE SÃO PAULO. (2012). Índios estão integrados ao modo de vida urbano, afirma pesquisa. Poder, 10 de novembro. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/77168-indios-estao-integrados-ao-modo-de-vida-urbano-afirma-pesquisa.shtml> Acesso em: 15 set. 2018.

GARCÍA, O.; WEI, L. (2014). Translanguaging: Language, Bilingualism and Education. New York: Palgrave Macmillan.

HINE, C. M. (2000). Virtual Ethnography. London/Thousand Oaks/New Delhi: Sage Publications.

IRVINE, J.; GAL, S. (2000). Language ideology and linguistic differentiation. In: KROSKRITY, P. V. (ed.). Regimes of language: Ideologies, Politics and Identities. Santa Fe, NM: School of American Research Press. p. 35-85.

JACQUEMET, M. (2005). Transidiomatic practices: language and power in the age of globalization. Language and communication, n. 25. p. 257-277.

JACQUEMET, M. (2016). Language in the Age of Globalization. In: BONVILLAIN, N. (ed.). The Routledge Handbook of Linguistic Anthropology. New York: Routledge. p. 329-347.

JESUS, N. T. et al. (2014). Presença indígena no Facebook e a construção de narrativas. Fronteiras e Debates, vol.1, n. 2. p. 9-28.

LANDER, E. (2000). Ciencias sociales: saberes coloniales e eurocéntricos. In: LANDER, E. (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo e ciencias sociales – Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO. p. 9-38.

MAHER, T. M. (2010). Políticas linguísticas e políticas de identidade: currículo e representações de professores indígenas na Amazônia ocidental brasileira. Currículo sem Fronteiras, v.10, n.1, pp.33-48.

MAHER, T. M. (2016). Sendo índio na cidade : mobilidade, repertório linguístico e tecnologias. Revista da Anpoll, n. 40. p. 58-59.

MAKONI, S.; MEINHOF, U. (2006). Linguística aplicada na África: desconstruindo a noção de “língua”. Tradução de Luiz Paulo da Moita Lopes. In: MOITA LOPES, L. P. (org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola. p. 191-213.

MAKONI, S.; PENNYCOOK, A. (2007). Disinventing and reconstituting languages. In: MAKONI, S.; PENNYCOOK, A. (eds.). Disinventing and reconstituting languages. Clevedon/Buffalo/Toronto: Multilingual Matters. p. 1-41.

MEHINAKU, M. (2010). TETSUALÜ: pluralismo de línguas e pessoas no Alto Xingu. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-graduação em Antropologia Social/Museu Nacional. Rio de Janeiro: Iniversidade Federal do Rio de Janeiro.

MIGNOLO, W. D. (2000). Local/histories/Global designs: coloniality, subaltern knowledges, and border thinking. Princeton: Princeton University Press.

MIGNOLO, W. D. (2010). Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del signo.

MIGNOLO, W. D. (2011). The darker side of Western Modernity: global futures, decolonial options. Durham/London: Duke University Press.

MOITA-LOPES, L. P. (2006). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo : Parábola.

MOITA-LOPES, L. P ; BASTOS, L. C. (2010). (orgs.). Para além da identidade : fluxos, movimentos e trânsitos. Belo Horizonte : Editora UFMG.

MOITA-LOPES, L. P. (2018). Guarani/Portuguese/Castelliano - Rap on the borderland : transidiomaticity, indexicalities and text spectacularity. In : CAVALCANTI, M. C. ; MAHER, T. M. (eds.) Multilingual Brazil : language resources, identities and ideologies in a globalized world. London/New York : Routledge.

NASCIMENTO, A. N. (2017a). Plurilinguismos indígenas no mundo globalizado. Organon, v.32, n. 62, p. 1-19. Disponível em: < https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/70481/42118> Acesso em: 15 set. 2018.

NASCIMENTO, A. M. (2017b). Globalization in the margins: toward elements for a sociolinguistics of mobility from Indigenous experiences. Signótica, vol. 29, n. 2, p. 269-301.

NASCIMENTO, A. M. (2018). Counter-hegemonic linguistic ideologies and practices in Brazilian Indigenous rap. In: ROSS, A. S.; RIVERS, D. J. (eds.). The sociolinguistics of Hip-Hop as critical conscience: dissatisfaction and dissent. New York: Palgrave Macmillan. p. 213-235.

PENNYCOOK, A. (2012). Language and mobility: unexpected places. Bistol/Buffalo/Toronto: Multilingual Matters.

PINTO, J. P. (2013). Prefiguração identitária e hierarquias linguísticas na invenção do português. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo (org.). O português no século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. São Paulo: Parábola. p. 120 – 143.

PRATT, M. L. (1987). Linguistic Utopias. In: FABB, N. et al. (eds.). The linguistics of writing: arguments between language and literature. New York: Nethuen Inc. p. 48-66.

QUIJANO, A. (1992). Colonialidad y modernidad-racionalidad. In: BONILLA, H. (comp.). Los conquistados: 1492 y la población indígena de las Américas. Bogotá: Tercer Mundo/Flacso. p. 437-447.

QUIJANO, A. (2000) Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, E. (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO. p. 193-238.

RAJAGOPALAN, K. (2003). Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e questão ética. São Paulo: Parábola.

SILVA, D. (2017). Investigating violence in language: an introduction. In: Silva, D. (ed.). Language and Violence: pragmatic perspectives. Amsterdan/Philadelphia: John Benjamins. p. 1-29.

WANG, X. et al. (2014). Globalization in the margins: toward a reevalution of language and mobility. Applied Linguistics Review, vol.5, n.1. p. 23-44.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.