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Corpos dissidentes, saúde sexual e microbiopolíticas de resistência na Amazônia Atlântica
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Palavras-chave

LGBTI ;
Amazônia
Vulnerabilidade em saúde
Performatividade
Metapragmática
Biopolítica

Como Citar

SENA, José. Corpos dissidentes, saúde sexual e microbiopolíticas de resistência na Amazônia Atlântica. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 59, n. 3, p. 1710–1734, 2020. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8661250. Acesso em: 6 out. 2024.

Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar as disputas metapragmáticas sobre o cuidado em saúde sexual estabelecidas na relação entre uma biopolítica oficial e as práticas de cuidado em saúde de corpos dissidentes no território da Amazônia Atlântica contemporânea. Ao examinar discursos oficiais, como os presentes no Plano Nacional de Saúde Integral LGBT (BRASIL, 2013), assim como a efetiva operacionalização de princípios da Promoção à Saúde (AYRES; PAIVA; FRANÇA JÚNIOR, 2012), a pesquisa detecta o funcionamento de uma política de silenciamento e precarização das demandas da saúde sexual LGBTI+ no contexto local, a qual é confrontada por estratégias microbiopolíticas de resistência. Para realizar o estudo, foi desenvolvido um trabalho etnográfico (PEIRANO, 2008; 2014) ao longo dos anos de 2016-2019, com jovens LGBTI+ no contexto de festas, afterparties e convivências domésticas em repúblicas estudantis na região dos Caetés. Fundamentado pelas teorizações sobre biopolítica (FOUCAULT, 1999) e performatividade (BUTLER, 2004), o foco analítico centra-se nas performances narrativas (MOITA LOPES, 2006) encenadas por sujeitos LGBTI+, as quais encenam disputas metapragmáticas (SILVERSTEIN, 1998) em torno do discurso oficial do Estado, criticando o lugar que este relega à promoção do cuidado em saúde sexual da população LGBTI+. Conclui-se que as práticas de resistências microbiopolíticas identificadas nas experiências sociais locais questionam o discurso oficial e a manutenção de um regime LGBTfóbico.

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