Banner Portal
“Aqui somos protegidos pelas nossas quatro paredes. Aqui nós falamos alemão”: histórias de letramentos interculturais no vale do itajaí, sc
Remoto (Português (Brasil))

Keywords

Letramentos. Imigração alemã. Escolarização

How to Cite

FRITZEN, Maristela Pereira; EWALD, Luana. “Aqui somos protegidos pelas nossas quatro paredes. Aqui nós falamos alemão”: histórias de letramentos interculturais no vale do itajaí, sc. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 52, n. 2, p. 239–258, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645373. Acesso em: 17 jul. 2024.

Abstract

O objetivo deste trabalho é refletir sobre as práticas sociais de leitura e de escrita em um cenário de imigração alemã, no Médio Vale do Itajaí, SC. Parte-se dos registros de uma pesquisa interpretativista1 que teve como principal objetivo compreender como se deram os acessos ao(s) letramento(s) em língua alemã e em língua portuguesa por parte de indiví- duos teuto-brasileiros que vivenciaram o período da segunda campanha de nacionalização do ensino (1937-1945) e o período pós-guerra. O estudo descreve histórias de letramento desses indivíduos e sua relação com a escolarização, com questões de identidade étnica e com as políticas linguísticas nacionais e locais. O principal instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista narrativa, realizada com sujeitos nascidos entre 1916 e 1934. O viés teórico adotado na análise dos registros da investigação orientou-se pelos Estudos do Letramento, em consonância com teorias que envolvem a escolarização em contextos de línguas minoritárias no âmbito da Linguística Aplicada. As narrativas construídas pelos atores sociais desta pesquisa trazem à tona (i) conflitos gerados pela imposição de uma identidade nacional única, (ii) ressentimentos decorrentes do processo de assimilação forçada e (iii) estratégias de resistência desses grupos em manterem sua língua de herança. Além disso, a reconstitui- ção das memórias dos sujeitos participantes do estudo desvelam histórias de letramento em que os significados da escrita transcendem a esfera escolar, uma vez que são produzidos na inserção dos sujeitos em práticas de letramentos vivenciadas na família, na esfera religiosa entre outras esferas. Assim, o acesso aos letramentos em língua alemã não se deu apenas pela escola, mas outras agências de letramento foram determinantes nesse sentido.

ABSTRACT

This paper provides a reflection on literacy practices in the context of German immigrants in the central Itajaí Valley in Santa Catarina. The research, which was developed through an interpretivist perspective, was designed to facilitate an understanding of how German- -Brazilians who spent the period of the second campaign of teaching nationalization (1937- 1945) and the post-war years were introduced to German and Portuguese literacy(ies). The study thus presents narratives of literacy of these immigrants to describe the immigrants’ literacy stories and their relationship with education, as well as with ethnic identity and national and local language policies. The main instrument used to generate data was the narrative interview, which was conducted with subjects who were born between 1916 and 1934. The analysis of data was guided by Literacy Studies, in line with theories involving schooling in contexts of minority languages within the area of Applied Linguistics. The narratives constructed by the participants bring out (i) the conflicts generated by a single, imposed national identity, (ii) resentment arising from the process of forced assimilation and (iii) strategies of resistance to maintain the heritage language. Moreover, the recovery of the memories of the participants in the study reveals narratives of literacy in which the meaning of writing transcends the school sphere, since these meanings are produced by the insertion of these individuals into various spheres, such as the literacy practices within their families and religious scenarios. Thus, access to literacy in German did not take place only at school, but also through the action of other agencies of literacy, which were crucial to this access.

Keywords: literacies; German immigration; schooling

Remoto (Português (Brasil))

References

ACHARD, P. (1987/1989). Um ideal monolíngüe. In: Vermes, G.; Boutet, J. (orgs) Multilingüismo.

Campinas, SP: Editora da Unicamp. pp. 31-55.

BAGNO, M. (1999). Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola.

BAKHTIN, M. (1992/2011). Estética da criação verbal. 6 ed. São Paulo: WMF Martinsfontes.

_______. (1977/2006). Marxismo e filosofia da linguagem. 12ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

BARTLETT, L. (2007). To Seem and To Feel: Situated Identities and Literacy Practices.

Teachers College Record, v. 109, n. 1, pp. 51–69.

BAUMAN, Z. (2003). Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

BERENBLUM, A. (2003). A invenção da palavra oficial: identidade, língua nacional e escola em tempos de globalização. Belo Horizonte: Autêntica.

BORTONI-RICARDO, S. M. (2005). Nós cheguemu na escola, e agora?: Sociolingüística e educação.

São Paulo: Parábola Editorial.

BOSI, E. (1994). Memória e Sociedade: lembrança de velhos. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras.

CANAGARAJAH, A. S. (2004). Subversive identities, pedagogical safe houses, and critical learning. In: Norton, B.; Toohey, K. (orgs.) Critical pedagogies and language learning.

Cambridge: Cambridge University Press. p.116-136.

CAVALCANTI, M. C. (1999). Estudos sobre educação bilíngue e escolarização em contextos de minorias lingüísticas no Brasil. DELTA, 15, número especial, pp. 385-418.

_______. (2006). Um olhar metateórico e metametodológico em pesquisa em Linguística Aplicada: implicações éticas e políticas. In: Moita Lopes, L. P. (org.) Por uma Lingüística Aplicada INdisciplinar. (org.) São Paulo: Parábola Editorial. pp. 233-252.

_______. (2011). Multilinguismo, transculturalismo e o (re)conhecimento de contextos minoritários, minoritarizados e invisibilizados. In: Magalhães, M. C. C.; Fidalgo, S. S.; Shimoura, A. S. (orgs.) A formação no contexto escolar: uma perspectiva crítico- -colaborativa. Campinas, SP: Mercado de Letras. pp. 171-185.

ERICKSON, F. (1986). Qualitative methods in research on theaching. In: Wittrock, M. C.

(org.). Handbook of research on teaching. New York: MacMillan.

FÁVERI, M. (2005). Memórias de uma (outra) guerra: cotidiano e medo durante a Segunda Guerra em Santa Catarina. 2ª ed. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí; Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

FRITZEN, M. P. (2007). “Ich kann mein Name mit letra junta und letra solta schreiben”: bilinguismo e letramento em uma escola rural localizada em zona de imigração alemã no Sul do Brasil. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

_______. (2008). “Ich spreche anders, aber das ist auch deutsch”: línguas em conflito em uma escola rural localizada em zona de imigração no sul do Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, n. 47, v. 2, pp. 341-356.

_______. (2012). O olhar da etnografia no fazer pesquisa qualitativa: algumas reflexões teórico-metodológicas. In: Fritzen, M. P.; Lucena, M. I. P. (orgs.) O olhar da etnografia em contextos educacionais: interpretando práticas de linguagem. Blumenau, SC: Edifurb, pp. 55-71.

HALL, S. (2005). A identidade cultural na pós-modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro, RJ: DP&A.

JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M. W. (2002). Entrevista narrativa. In: Bauer, M. W.; Gaskell, G. (org.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad.

Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes. pp. 90-136.

KLEIMAN, A. (1995). Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: Kleiman, A. B. (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, pp.15-61.

KORMANN, E. (1995). Blumenau: arte, cultura e as histórias de sua gente. Blumenau: Edição da autora.

KREUTZ, L. (1994). Material didático e currículo na escola teuto-brasileira do Rio Grande do Sul. São Leopoldo: Ed. Unisinos.

LUNA, J.M. de F. (2000). O Português na Escola Alemã de Blumenau: da formação à extinção de uma prática. Itajaí: Ed. da Univalli e Ed. da Furb MAHER, T. M. (2007). Do casulo ao movimento: a suspensão das certezas na educação bilíngue e intercultural. In: Cavalcanti, M.; Bortoni-Ricardo, S. M. (orgs.) Transculturalidade, linguagem e educação. Campinas, SP: Mercado de Letras. pp. 67-94.

MAILER, V. C. O. (2003). O alemão em Blumenau: uma questão de identidade e cidadania.

Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

MARCUSCHI, L. A. (1986). Análise da conversação. São Paulo: Ática.

MOITA LOPES, L. P. (1994). Pesquisa interpretativista em Lingüística Aplicada: a linguagem como condição e solução. DELTA, v. 10, n. 2, pp. 320-338.

_______. (2006). (org.) Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. (org.) São Paulo: Parábola Editorial.

OLIVEIRA, G. M. (2002). Brasileiro fala português: monolinguismo e preconceito lingüístico.

In: Silva, F. L.; Moura, H. M. M. (orgs.) O direito à fala: a questão do preconceito lingüístico. Florianópolis: Editora Insular. pp. 83-92.

ORLANDI, E. P. (1987). A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2. ed. Campinas, SP: Pontes.

ROMAINE, S. (1995). Bilingualism. Oxford: Blackwell.

SEYFERTH, G. (1981). Nacionalismo e identidade étnica. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura.

_______. (1986). A estratégia do branqueamento. Ciência Hoje, v. 5, n. 25, pp. 54-56.

_______. (1999). A colonização alemã no Brasil: etnicidade e conflito. In: Fausto, B. (org.) Fazer a América. São Paulo: USP. pp. 273-313.

SILVA, J. F. (1972). História de Blumenau. Florianópolis: Edeme.

SILVA, T. T. (2012). A produção social da identidade e da diferença. In: Silva, T. T. (Org.).

Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.

pp. 73-102.

STREET, B. (2000). Literacy events and literacy practices. In: Martin-Jones, M.; Jones, K.

Multilingual literacies: reading and writing different worlds. Amsterdam and Philadelphia: John Benjamins. pp. 17-29.

_______. (2003). What’s “new” in New Literacy Studies? Critical approaches to literacy in theory and practice. Current Issues in Comparativ Education, v. 5, n. 2, pp.1-14.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Download data is not yet available.