Resumo
Partindo-se da noção de “outros estruturais” do sujeito projetado/produzido pela tradição humanista, apresentada por Braidotti (2011; 2013; 2016), defende-se que as tecnologias da escrita, notadamente o texto e o livro, são elementos constitutivos do sujeito do humanismo e que tais tecnologias têm seus “outros estruturais” a serem também considerados. Através do exame de escritas ditas “menores” produzidas por interlocutores relevantes do pensamento pós-humanista crítico e de outros tipos de escrita produzidos por dois artistas contemporâneos, que atuam no campo da dramaturgia e das artes plásticas, procura-se demonstrar como funcionam esses outros dos modelos de escrita consolidados pela tradição humanista, notadamente os modelos grafocêntricos do racionalismo tecno-científico. Na medida em que favorecem a produção de devires por um sujeito material e situacionalmente encarnado, em contraposição a um cógito ou consciência transcendental desencarnada, afirma-se que os tipos de escrita examinados são relevantes para uma reflexão pós-humanista crítica.
Referências
ADDICOTT, J. (2012). Phallogocentrism: The politics of binaries and strategic writing in female/male ethnography. Disponível em: <https://jameseaddicott.wordpress.com/2012/06/14/phallogocentrism-the-politics-of- binaries-and-strategic-writing-in-femalemale-ethnography/> Acesso em 20.06.2019.
ASHOLT, W. (2019). Théâtre post-dramatique et/ou Storytelling? Fabula. La recherche en littérature, 17.04.2019. Disponível em: <http://www.fabula.org/colloques/document6075.ph> Acesso em 20.06.2019.
ARAUJO, S. X. G. de. (2012). O problema do ethos da escrita de si em Montaigne e em Petrarca: do ensaio à epístola. Kriterion [online]. 2012, vol.53, n.126, pp.543-557. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2012000200014&lng=en&nrm=iso> Acesso em 20.06.2019.
ARTAUD, A. (2006). O teatro e seu duplo. Tradução de Teixeira Coelho. São Paulo: Martins Fontes.
BIRCHAL, T. de S. (2007). O eu nos Ensaios de Montaigne. Belo Horizonte: Ed. UFMG.
BOURDIN, J.-C. (1998). Diderot. Le matérialisme, PUF, 1998.
BOURDIN J.-C. (1999). Formes et écriture chez Diderot philosophe. In: Annie Ibrahim (éd.) Diderot et la question de la forme. Paris cedex 14, Presses Universitaires de France, « Débats philosophiques », 1999, p. 17-36.
BRAIDOTTI, R. (1988). L’Usure des langues. Les Cahiers du GRIF, n° 39, automne, 73-82.
BRAIDOTTI, R. (2006). Affirming the Affirmative: On Nomadic Affectivity. Rhizomes: Cultural Studies in Emerging Knowledge. 11/12 (Fall 2005/Spring 2006).
BRAIDOTTI, R. (2011). Nomadic Theory: The Portable Rosi Braidotti. New York: Columbia University Press.
BRAIDOTTI, R. (2013). The posthuman. Cambridge: Polity Press.
BRAIDOTTI, R. (2018). A theoretical framework for the critical posthumanities. Transversal Posthumanities. Theory, Culture & Society, 0(0), 1–31, 2018.
CHARTIER, R. (1993). Pratiques de la lecture, Paris: Rivages et Payot.
CHARTIER, R. (1997). Le livre en révolutions, entretiens avec Jean Lebrun. Paris, Textuel.
CHAUDERLOT, F.-S. (2002). Encyclopédismes d’hier et d’aujourd hui: informations ou pensée? Une lecture de l’Encyclopédie à la Deleuze. SVEC, 5, 2002, p. 37-62.
CORREIA, H. H. S. (2013). Nietzsche, criador de metáforas, aforismos, ensaios, narrativa e poesia. Letrônica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 798-814, jul./dez., 2013.
DAVID, G. (2015). Rodrigo García. Théâtre. Entretien. Journal La Terrasse 18.01.2015. Disponível em: <https://www.journal-laterrasse.fr/rodrigo-garcia/> Acesso em 20.06.2019.
DAMASCENO, C.; BONFITTO, M. (2017) Dramaturgia performativa e produção de corporeidades nos trabalhos do La Carnicería Teatro. Sala Preta, 17(1), 396-408.
DELEUZE G. (1962). Nietzsche et la philosophie, PUF.
DELEUZE, G. (1975). Lógica do sentido. Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva.
DELEUZE, G. (2002). L’île déserte. Paris: Minuit.
DELEUZE, G. (2009) Diferença e repetição. Trad. R. Machado e L. Orlandi. Rio de Janeiro: Graal.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. (1977). Kafka Por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda,.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. (2007). O que é a filosofia?. São Paulo: Editora 34.
DELEUZE, G.; GUATARRI, F. (1980). Mille Plateaux - capitalisme et schizofrénie. Paris, Éditions de Minuit.
DERRIDA, J. (1978). Writing and Difference. Chicago: The University of Chicago Press.
DIDEROT, D. (1979) Textos escolhidos. Os Pensadores. Diderot; traduções e notas de Marilena de Souza Chauí, J. Guinsburg. São Paulo: Abril Cultural. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/1OAzbWWJMP7QNB3pF91Ryve4_7kW9jYkN/view> Acesso em 20.06.2019.
EVA, L. (2007). O ensaio como fantasia. In: A figura do filósofo. Ceticismo e subjetividade em Montaigne. São Paulo: Edições Loyola, pp. 400-437.
FOUCAULT, M. (1976). La Volonté de savoir, Histoire de la sexualité, t. I, Gallimard, Bibliothèque des Histoires.
FOUCAULT, M. (1994). Les technologies de soi-même. In: Dits et écrits, Volume IV. Paris: Gallimard, pp. 783- 813.
GARCÍA, R. (2007). Et balancez mes cendres sur Mickey, Les Solitaires intempestifs.
GOODY J. (1979) La Raison graphique, Paris, Éditions de Minuit.
HARAWAY, D. (1991). Simians, Cyborgs, and Women. London: Free Association Books.
HAYAT, M. (2003). L’enracinement biologique de la pensée: de Diderot aux sciences contemporaines. Le Philosophoire, 2003/3 (n° 21), p. 41-64.
HAYLES, N, K. (1999) How We Became Posthuman: Virtual Bodies in Cybernetic, Literature and Informatics. Chicago: The University of Chicago Press.
HERNÁNDEZ, J. M.-V. (2003). Constitución del materialismo vitalista. El Catoblepas, 21, nov. 2003. Disponível em: <http://www.nodulo.org/ec/2003/n021p12.htm> Acesso em 20.06.2019.
IBRAHIM, A. (1999). Le matérialisme de Diderot : formes et forces dans l’ordre des vivants. In: Diderot et la question de la forme. Presses Universitaires de France, Débats philosophiques, 1999, pp. 87-103.
IRIGARAY, L. (1991).The Irigaray Reader. Cambridge: Basil Blackwell.
JARDIM, L. A. (2018). Fragmentos do teatro de Antonin Artaud e costuras de telas de H.B. Conexão Letras, Porto Alegre, v. 13, n. 20, p. 103-123, jul.-dez. 2018.
LATOUR, B. (1994). Jamais fomos modernos. Editora 34/ Editora Nova Fronteira.
LYOTARD, J.-F. (1979). La Condition post-moderne, Éd. de Minuit.
MANGUEL, A. (1996). A history of reading. London: Penguin Books.
MARTON, S. (2001). Extravagâncias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial e Editora UNIJUÍ.
MBEMBE, A. (2008). Necropolitics. Public Culture 15(1):11-40.
MONFORT, A. (2009). Après le postdramatique: narration et fiction entre écriture de plateau et théâtre néo-dramatique. Trajectoires [En ligne], 3, 2009. Disponível em: <http://journals.openedition.org/trajectoires/392> Acesso em 20.06.2019.
MONTAIGNE, M. (1988) Les Essais. Édition de Pierre Villey avec appendices, sources, index. Paris: Quadrige/Presses Universitaires de France.
MORIARTY, M. (2015). Montaigne and Descartes. Oxford Handbooks Online. Oxford University Press, Dec 2015. Disponível em: <https://sci-hub.se/10.1093/oxfordhb/9780190215330.013.20> Acesso em 20.06.2019.
ORSINI, A. (2015) Enveloppements au miel et bains de boue : “Et Balancez mes Cendres sur Mickey” ou la thalassothérapie selon Rodrigo García. Culturepoing.com 04.02.2015. Disponível em: <https://www.culturopoing.com/scenes-expos/15762/20150204> Acesso em 20.06.2019.
PUJOL, S. (2015). Diderot ou o pensamento nômade. Discurso, 45(1), 41-66.
QUINTILI, P. (2002). Review. Annie IBRAHIM (éd.), Diderot et la question de la forme, Recherches sur Diderot et sur l’Encyclopédie, OpenEdition 33, 2002, pp. 213-218. Disponível em: <http://journals.openedition.org/rde/427> Acesso em 20.06.2019.
REGIS I., Guerlais M., Cochais J.-Y., Biou J. Lire l’Encyclopédie. Littérature, n°42, 1981. L’institution littéraire I. pp. 20-39.
SAFATLE, V. Tradução de Montaigne é adequada para entender crise de identidade atual. Folha Ilustrada, 01.01.2011. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0101201118.htm> Acesso em 20.06.2019.
SKOUEN, T. (2011). Science versus Rhetoric? Sprat’s History of the Royal Society Reconsidered. Rhetorica. A Journal of the History of Rhetoric, 29(1), 23–52.
STEGMAIER, W. (2013). Linhas fundamentais do pensamento de Nietzsche. Petrópolis: Vozes.
LECA-TSIOMIS, M. (2006). Une tentative de conciliation entre ordre alphabétique et ordre encyclopédique. Recherches sur Diderot et sur l’Encyclopédie, 40-41, 2006, pp. 55-66.
VANDENDORPE, C. (1999). Du papyrus à l’hypertexte. Essai sur les mutations du texte et de la lecture. Montréal: Boréal.
VERONEZE, C. (2016). Can the humanities become post-human? Interview with Rosi Braidotti. Relations, 4(1), 97–101.
VISSER, J. (2014). The Healing Practices of Language: Artaud and Deleuze on Flesh, Mind and Expression. In: Braidotti, R. e Dolphijn, R. (eds) This Deleuzian Century. Art, Activism, Life. Koninklijke Brill nv, Leiden, The Netherlands, p p. 116-138.
O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:
- A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
- Os originais não serão devolvidos aos autores;
- Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
- Deve ser consignada a fonte de publicação original;
- As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.