Resumo
O artigo caracteriza os anos 1970 como o período das últimas vanguardas artísticas e das primeiras manifestações da arte pós-vanguardista. Recorrendo aos críticos da cultura Peter Burger, Fredric Jameson e Andreas Huyssen, especifica as mudanças no imaginário artístico nessa década. Mostra que para Burger embora as intenções políticas das vanguardas não tenham sobrevivido, não pode ser ignorar o seu legado no nível artístico, pois essas manifestações teriam colocado à disposição dos artistas pós-vanguardistas uma pluralidade de meios, técnicas e procedimentos. Destaca, ainda, a caracterização da arte dita pós-moderna por Jameson como uma combinação de signos disparatados, amealhados gratuitamente do passado, daí resultando, paradoxalmente, amnésia histórica. Por fim, o artigo mostra que Huyssen considera essa guinada do olhar, do futuro ao passado, como progressista, isto é, como a consciência histórica que permitiu recuperar o continuum no tempo após as sucessivas rupturas com a tradição artística, decretadas pelas vanguardas. É na arte como efetuações singulares que vários artistas, desde o fim dos anos 1970, trabalhando sobre as ruínas do modernismo - tensionando estética e política em formas artísticas estruturadas – atendem tanto as necessidades da política, quanto da estética. Os anos 1970 mostraram, assim, conclui o artigo, que a política é efetuada, desde o fim das vanguardas, por uma estética não programática do artista.
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