Resumo
Neste artigo, discutiremos, a partir do confrontamento de seus ensaios e entrevistas, aquilo que a filósofa brasileira Gilda de Mello e Souza chamou de “miopia feminina”. Tal condição é fruto da cultura que condicionou as mulheres à certa produção artística e instaurou um processo criativo específico. Contudo, vemos que a autora não quer abandonar o que a história fez das mulheres, uma vez que fazer isso seria como destruir tudo que elas construíram no campo das artes. A partir disso, esboçaremos uma aproximação entre o pensamento da filósofa brasileira e a crítica feminista da história da arte. Ao fim, apresentaremos o contexto do qual parte Gilda de Mello e Souza, discorrendo sobre a condição da mulher no sistema acadêmico de sua época, a sua participação na revista Clima e a sua atuação profissional como professora de Estética no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.
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