A antropofagia na arte de Glauco Rodrigues
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Palavras-chave

Bienal
Mito
Magia
Antropofagia
Mestiçagem

Como Citar

FLORES, Maria Bernardete Ramos. A antropofagia na arte de Glauco Rodrigues: a propósito da I Bienal Latino-Americana de São Paulo ou um elogio da mestiçagem. MODOS: Revista de História da Arte, Campinas, SP, v. 7, n. 3, p. 54–93, 2023. DOI: 10.20396/modos.v7i3.8673308. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/mod/article/view/8673308. Acesso em: 1 maio. 2024.

Resumo

Glauco Rodrigues expôs na I Bienal Latino-Americana de São Paulo (1978) um conjunto de 67 obras produzidas na década de 1970, que fazem parte de uma fase do artista, vista pela crítica como sendo antropofágica. Fundindo “banhistas ipanêmicos” aos “índios pindorâmicos”, vê-se nas suas telas, de fundo branco, a montagem de múltiplas temporalidades e espacialidades, pelo recurso da apropriação e deglutição, de outros pintores, de figuras históricas, de imagens da mídia, e até de si mesmo, o que produz uma mestiçagem de elementos compositivos. A presença de Glauco Rodrigues na BLA, no momento em que intelectuais, pensadores e críticos de arte da América Latina, num gesto de rejeição à dominação norte-americana e europeia, procuravam demonstrar as peculiaridades e potencialidades da arte da região, suscitou-nos a problemática desse artigo: o paradigma da antropofagia, que o artista aplica em sua arte, pode ser útil como ferramenta teórica para refletir sobre a cultura miscigenada que se produziu no Brasil. O argumento do artigo gira em torno do questionamento sobre a opção do Conselho de Arte e Cultura da Bienal pelo tema-título Mitos e Magia como fio condutor do evento que, aliado à forma de exposição, em sessões étnicas, renderam críticas; foram apontadas como razões que dificultaram a plena realização do certame. Glauco Rodrigues, no entanto, misturando os mitos, representou um dos grandes momentos da BLA.

https://doi.org/10.20396/modos.v7i3.8673308
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