Resumo
Meu objetivo com este artigo não são os artistas considerados vulneráveis no que tange à possibilidade de participação em coleções museográficas. Tampouco pretendo trabalhar acervos em condições de fragilidade no que tange sua proteção e conservação. Viso construir caminhos para uma teoria da arte alicerçada na vulnerabilidade de todo corpo, incluindo a obra, perpassada pelo fora, pela diferença, pela alteridade. Meu intuito é elaborar uma certa poética crítica na contemporaneidade que, sob a perspectiva da precariedade – vulnerabilidade de toda fronteira que faz conectar o dentro e o fora –, apresenta alternativas à lógica da individuação – seja relativa à obra, ao sujeito ou à comunidade. O termo “precariedade” apareceu nos discursos de artistas dos anos 1960 e 1970 no Brasil. Tomo como ponto de partida o pensamento e o trabalho de Lygia Clark que usou a palavra em 1963, mas abordo outras produções da década de 1970, chegando até os dias atuais. Parte-se do entendimento de que a obra de arte em sua condição precária apresenta a incerteza do processo, as falhas da expressão, os embaraços do tempo, exibindo ainda as marcas e os rastros das materialidades como sintoma de um movimento permeável entre a exterioridade e a interioridade, o que mostra um descentramento do “eu”.
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