Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar elementos da história do pensamento português a partir da cultura visual, abordando representações visuais da geografia e dos povos originários durante o século XVI. Em última instância, o artigo procura oferecer uma abordagem original para o estudo da história do Brasil a partir dos elementos artísticos produzidos no primeiro século de contato. Assumindo uma metodologia mista e especulativa, pretendemos mostrar como as formas de ver expressa pelos portugueses – neste caso pela pintura e pela cartografia – é expressão, também, de uma ideologia vigente, alicerçada sobre preceitos epistemológicos produzidos pelo desenvolvimento social de correntes de pensamento. Para atingir o objetivo proposto, o artigo se inicia com um panorama das representações dos indígenas brasileiros, das primeiras ilustrações à obra de Theodore De Bry. Num segundo movimento, analisamos três pinturas portuguesas que apresentam o indígena como figura importante da composição e, em terceiro lugar, discutimos o papel da cartografia – e, nela, a presença do território brasileiro – no contexto português. Com isso, espera-se contribuir com o aprofundamento de abordagens interdisciplinares para o estudo da história passada – e presente – do Brasil, focando-nos no papel e nos significados possíveis oferecidos pela produção cultural.
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