Seres em metamorfose: sonhos, de Claudia Andujar, e o perspectivismo ameríndio

Resumo

Este artigo propõe um caminho interpretativo para a série Sonhos Yanomami (1974-2003), da fotógrafa suíça naturalizada brasileira Claudia Andujar (1931- ). Na série, considerada pela artista como um turning point em sua produção fotográfica sobre os Yanomami, Andujar acredita ter conseguido interpretar visualmente a “essência” daquele povo, que, segundo ela, estaria associada à sua experiência xamânica. O exercício interdisciplinar de aproximação entre imagens de Sonhos e aspectos da teoria do perspectivismo ameríndio, sobretudo no que concerne às relações entre xamanismo e mitologia ameríndia, parece ampliar a compreensão sobre o conceito transmitido pela série, em sua estreita conexão com as opções técnicas efetuadas pela fotógrafa. As sobreposições e transparências operadas por Andujar em Sonhos parecem coadunar-se com a noção de metamorfose mítica, atualizada pelo ritual xamânico, na esteira dos escritos do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.