Banner Portal
Intertext(sex)ualidade: a construção discursiva de identidades na prevenção de dst/aids entre travestis
Remoto

Palavras-chave

Sexualidade. Gênero social. Intertextualidade. Travestis. Sexo seguro

Como Citar

BORBA, Rodrigo. Intertext(sex)ualidade: a construção discursiva de identidades na prevenção de dst/aids entre travestis. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 49, n. 1, p. 21–37, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645289. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

Com base em uma perspectiva não-representacional/não-essencialista das relações entre linguagem e identidades sociais (MOITA LOPES, 2003; 2006a), o presente artigo descreve a construção de identidades de gênero e sexualidade em intervenções para distribuição de preservativos entre travestis que se prostituem em uma região urbana do sul do Brasil. Durante as intervenções, Sandra e Márcia, duas mulheres que têm se construído em categorias identitárias hegemônicas/tradicionais (brancas, de classe média, heterossexuais e escolarizadas), engajam-se em interações nas quais produzem discursivamente identidades não-tradicionais, o que parece engendrar um processo de adequação (BUCHOLTZ e HALL, 2004) de suas identidades às travestis e ao contexto onde se inserem (i.e. territórios de prostituição). Guiado por teorias de Wittgenstein (2005) e Bakhtin (2003, 2004), argumento que essa produção de múltiplas identidades só é possível pelo caráter intertextual das identidades sociais (HALL, 2005). Sandra e Márcia utilizam intertextos que as constroem como participantes do universo das travestis, posicionandose como travestis, como clientes de travesti e como prostitutas e, assim, parecem ajustar discursivamente suas identidades às suas interlocutoras. Com esse pano de fundo, discute-se a importância de aproximar a Lingüística Aplicada da prevenção de DST/AIDS

ABSTRACT:

Guided by a non-representational/non-essencialist perspective on languagem-use and identity (MOITA LOPES, 2003; 2006a), this article investigates the construction of gender and sexual identities in interactions drawn from safer-sex outreach work among travestis who prostitute themselves in an urban area in southern Brazil. During the safer-sex outreach work, Sandra and Márcia, two women who have constructed themselves as members of hegemonic/tradicional identity categories (white, middle class, heterosexual, schooled), discursively produce non-traditional identities in a process of adequation (BUCHOLTZ and HALL, 2004) of their subject positions to the travestis’ and to the context of the interactions. Based on Wittgenstein’s (2005) and Bakhtin’s (2003, 2004) theories, I argue that the discursive production of identities is only made possible because of the intertextual aspect of social identities (HALL, 2005). Sandra and Márcia make use of intertexts that construct them as participants of the travestis’ universe. The safer-sex outreach workers position themselves through their utterances in identity categories such as travesti, travesti’s client, and prostitute and, thus, seem to discursively adjust their subject positions to their transgendered interlocutors. With this background, this paper dicusses the possibility of bringing Applied Linguistics closer to STD/AIDS prevention practices.

Keywords: sexuality; gender; intertextuality; travestis; safer sex

Remoto

Referências

ASTRAL (Associação de Travestis e Liberados). (1996). Diálogo de bonecas. Rio de Janeiro: ASTRAL.

AUSTIN, J. L. (1976). How to do things with words. Oxford: Oxford University Press.

BAKHTIN, M. (1997). Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud et alii. São Paulo: Hucitec.

_______. (2003). Estética da criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes.

_______. (2004). O Freudismo.São Paulo: Perspectiva.

BARRET, R. (1998). Markedness and style switching in performances by African American drag queens.

In: MYERS-SCOTTON (ed.), Codes and consequences: Choosing linguistics varieties. New York, Oxford University Press, p. 139-161.

BENEDETTI, M. (2005). R. Toda Feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond.

BAUMAN, Z. (2005). Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

BLOM, J.; GUMPERZ, J. (2002). O significado social na estrutura lingüística: alternância de códigos na Noruega. In RIBEIRO, Branca T. & GARCEZ, Pedro M. (orgs.), Sociolingüística Interacional, 2ª ed. São Paulo: Loyola, p. 45-84.

BORBA, R.; OSTERMANN, A. C. (2007). Do bodies matter? Travestis’ embodiment of (trans)gender identity through the manipulation of the Brazilian Portuguese grammatical gender system. Gender and Language, vol. 1, n. 1, p. 131-147.

BORTONI-RICARDO, S. M. (1984). Problemas de comunicação interdialetal. Tempo Brasileiro, vol. 78/ 79, p. 9-32.

BOURDIEU, P. (1985). The Social Space and the Genesis of Groups. Theory and Society, vol. 14, p. 723- 744 BRAIT, B. (1997). Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT, Beth.

(Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas: UNICAMP, p. 91-104.

BUCHOLTZ, M.; HALL, K. (2003). Language and Identity. In DURANTI, A.(ed.), A companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Basil Blackwell, p. 268-294.

_______. (2004). Theorizing Identity in Language and Sexuality Research. Language in Society, vol. 33, n.4, p.449-515.

BUTLER, J. (2003). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

CONDÉ, M. L. (1998). Wittgenstein: linguagem e mundo. São Paulo: Annabume.

DÍAZ, R. M., AYALA, G., BEIN, E. (2002). Sexual risk as an outcome of social oppression: Data from a probability sample of Latino gay men in three US cities. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, vol. 10, p. 255-267.

DU BOIS, J. W., SCHUETZE-COBURN, S., PAOLINO, D. & CUMMING, S. (eds.). (1992). Discourse Transcription. Santa Barbara, CA: University of Santa Barbara Press.

FABRÍCIO, B. F. (2002). Implementação de mudanças no contexto educacional: discursos identidades e narrativas em ação. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Letras, Estudos de Linguagem.

Mimeo. Tese de Doutorado em Estudos da Linguagem.

_______. (2006). Lingüística Aplicada como espaço de “desaprendizagem”: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo da (org.), Por uma Lingüística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, p. 45-65.

FOUCAULT, M. (1996). A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola.

GOFFMAN, E. (1974). Frame Analysis. New York: Harper & Row.

GUMPERZ, J. J. (2002). Convenções de contextualização. In RIBEIRO, Branca T. & GARCEZ, Pedro M. (orgs.), Sociolingüística Interacional, 2ª ed. São Paulo: Loyola, p. 149-182 HALL, K. (2005). Intertextual Sexuality: Parodies of class, identity, and desire in Liminal Delhi. Journal of Linguistic Anthropology, vol. 15, n. 1, p. 125-144.

HEBERLE, V.; OSTERMANN, A. C. & FIGUEIREDO, D. (orgs.). (2006). Linguagem e Gênero no trabalho, na mídia e em outros contextos. Florianópolis: Editora da UFSC.

KROSKRITY, P. V. (ed.). (2000). Regimes of Language: Idologies, Polities, and Identities. Santa Fé, MN: School of American Research Press.

KULICK, D. (1998). Travesti: sex, gender, and culture among Brazilian transgendered prostitutes. Chicago and London: University of Chicago Press.

MARCONDES, D. (2000). Filosofia, linguagem e comunicação.São Paulo: Cortez.

MARTIN, J. (2006). Transcendence Among Gay Men: Implications for HIV prevention. Sexualities, vol. 9, n. 2, p. 214-235.

MARTINS, M. H. (2000). Sobre a estabilidade do significado em Wittgenstein. Veredas Revista de Estudos Lingüísticos, vol. 4, n.2, p.19-42.

MAYS, V. M., COCHRAN, S. D., ZAMUDIO, A. (2004). HIV prevention research: Are we meeting the needs of African American men who have sex with men? Journal of Black Psychology, vol. 30, p.78-105.

MOITA LOPES, L. P. (org.). (2003). Discursos de Identidades. Campinas: Mercado de Letras.

_______. (2006a). Por uma Lingüística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial.

_______. (2006b). Lingüística Aplicada e a vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In, Moita Lopes, Luiz Paulo (0rg.), Por uma Lingüística Aplicada INdisciplinar, p.85-108.

MORENO, A. R. (2000). Wittgenstein: os labirintos da linguagem: ensaio introdutório. Campinas. Editora da Unicamp.

OCHS, E. (1992). Indexing Gender. In DURANTI, A. & GOODWIN, C. (eds.), Rethinking Context: Language as an Interactive Phenomenon. Cambridge: Cambridge University Press, p. 335-358.

PARKER, R. (2002). Abaixo do Equador: Culturas do desejo, homossexualidade masculina e comunidade gay no Brasil. Rio de Janeiro: Record.

PELÚCIO, L. (2005). Na noite nem todos os gatos são pardos: Notas sobre a prostituição travesti. Cadernos Pagu, vol.25, p. 217-248.

_______. (2007). No salto: trilhas e percalços de uma etnografia entre travestis que se prostituem. In.

BONETTI, Alinne e FLEISCHER, Soraya (orgs.), Entre saias justas e jogos de cintura. Florianópolis e Santa Cruz do Sul: Editora Mulheres e EDUNISC, p. 93-124.

SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. (1974). A simplest systematics for the organization of turntaking in conversation. Language, vol. 50, p. 636-735.

SILVA, H. R. S. (1993). Travesti: a invenção do feminino.1ed. Rio de Janeiro: Iser.

SILVERMAN, D.; PERÄKYLÄ, A. (1990). AIDS counselling: The interactional organization of talk about ‘delicate’ issues. Sociology of Health and Illness, vol. 12, n.3, p.293-318.

UZIEL, A. P.; RIOS, L. F.; PARKER, R. G. (orgs.). (2004). Construções da sexualidade: gênero, identidade e comportamento em tempos de aids. Rio de Janeiro: Pallas.

WITTGENSTEIN, L. (1953). Investigações filosóficas. São Paulo: Vozes, 2005.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.