Banner Portal
Aprendendo com o subalternizado
PDF (English)

Palavras-chave

Letramento crítico
Ideologia hegemônica do senso comum
Escrita de materiais didáticos

Como Citar

VIEIRA MULICO, Lesliê. Aprendendo com o subalternizado : o que Maria Lindalva nos ensina sobre a ideologia hegemônica do senso comum e a seleção de textos para materiais didáticos de inglês?. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 59, n. 1, p. 129–150, 2020. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8656755. Acesso em: 27 jul. 2024.

Resumo

No âmbito dos materiais didáticos para o ensino crítico e vocacional de línguas, a escrita de materiais que vão ao encontro dos objetivos profissionais no ensino público médio-técnico integrado e comprometido com a agenda da educação crítica para a formação cidadã merece devida atenção. Se, por um lado, o Letramento Crítico consubstancia práticas de engajamento com a mudança social (LUKE; FREEBODY, 1997), a promoção de oportunidades para o desenvolvimento de um olhar crítico a respeito de ideologias, culturas, economias, instituições e sistemas políticos dominantes (TILIO, 2013; 2017), e o exame de nosso locus de enunciação para que sejamos capazes de desaprender nossos lugares de privilégios e aprender com o subalternizado (ANDREOTTI, 2007); por outro lado, os materiais didáticos disponíveis para cursos técnicos de nível médio parecem não levar em consideração tais premissas, especialmente a última. Com o intuito de preencher essa lacuna, escrevi uma unidade didática (Society Matters?) para aprendizes do 3o ano do ensino médio-técnico, em que a autobiografia de Maria Lindalva, uma ativista sem-terra assentada subalternizada, cria oportunidades de discussão acerca dos ideais de trabalho, esforço e sucesso que desafiam a ideologia hegemônica do senso comum. Por meio da bricolagem construtivista (DENZIN; LINCOLN, 2005) envolvendo sua vídeo-autobiografia, a referida unidade didática, as memórias dos meus encontros pedagógicos com os aprendizes de 2015 a 2018, e duas linhas de interpretação que foram levantadas no seu decorrer, examinei em que medida os discursos a respeito da narrativa de Maria Lindalva refletem e refratam ideologias do capitalismo neoliberal, contribuindo com o desenvolvimento da postura crítica e a seleção de textos para materiais didáticos de ensino de línguas. Os resultados demonstraram que as análises que validam as realizações de Maria Lindalva podem ser confrontadas com o ponto de vista de sua relação com a escassez (SANTOS, 2017), o que favoreceu o desenvolvimento da postura crítica dos aprendizes; e, finalmente, que foi possível avançar em sua narrativa para mostrar o que Maria Lindalva nos ensina sobre seleção de textos para unidades didáticas destinadas ao ensino crítico de línguas.

PDF (English)

Referências

ANDREOTTI, V. (2007). An ethical engagement with the other: Spivak’s ideas on education. Critical Literacies: Theories and Practices. v.1, no 1, pp. 69-79, July 2007. Available at: http://www.criticalliteracyjournal.org/cljournalissue2volume1.pdf. Access on: 10 Jan. 2016.

BAKHTIN, M.M. (2011 [1979]). Os gêneros do discurso. In: Bakhtin, M.M. Estética da criação verbal. Mikhail Bakhtin. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora WWF Martins Fontes, 6a ed, pp. 261-306.

BLOOMAERT, J. (2005). Ideology. In: Bloomaert, J. Discourse: a critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 158-202.

CHUN, C.W. (2017). The discourses of capitalism: everyday economists and the production of common sense. New York: Routledge.

COPE, B.; KALANTZIS, M. (2015). The things you do to know: an introduction to the pedagogy of multiliteracies. In: Cope, B.; Kalantzis, M (org.), A pedagogy of multiliteracies: learning by design. London: Palgrave Macmillan, pp. 1-36.

GRAMSCI, A. (1891-1937). Prision notebooks, trad. Joseph A. Buttigieg and Antonio Callari. New York: Columbia University Press, v. 1, 1992

HALL, S.; O’SHEA, A. (2013). Common-sense neoliberalism. Soundings: a journal of politics and culture, no 55, pp. 8-24. Available at: https://muse.jhu.edu/article/531183/pdf Access on: 21 Sep. 2017.

LOPES, A. C. (2011). Funk-se quem quiser: no batidão negro da cidade carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto: FAPERJ.

LUKE, A.; FREEBODY, P. (1997) Critical literacy and the question of normativity: an introduction. In: Muspratt, S.; Luke, A.; Freebody, P. (org.), Constructing critical literacies: teaching and learning textual practices. New Jersey: Hampton Press Inc., Cresskill, pp. 1-17.

MAIA, J.O. (2017). Fogos digitais: letramentos de sobrevivência no Complexo do Alemão/RJ. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas.

MOITA LOPES, L.P. (2006). Linguística Aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: Moita Lopes, L P. (org.), Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, pp. 13-44.

MULICO, L. V. (2019a). Por onde começar? ideologia e hegemonia como pontos de partida para a escrita de uma unidade didática crítica e transgressiva para o ensino de língua inglesa. Mesa Redonda no 4º Congresso Latino-Americano de Glotopolítica. Universidade de São Paulo. São Paulo.

MULICO, L. V. (2019b). Teacher, em que você acredita? desnaturalizando pensares para potencializar o letramento crítico. Mesa Redonda no II Seminário Internacional da Associação Brasileira de Professores de Língua Inglesa da Rede Federal de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. O papel da língua inglesa na rede federal de educação: compartilhando cenários e maximizando êxitos. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Recife. Available at: https://e1167e2e-a020-4a3f-99b7-8900918dc34b.filesusr.com/ugd/fb602a_e32bddeecf8346378d6af686b93103e7.pdf. Access on: 9 Jan. 2020.

PENNYCOOK, A. (2001). Critical applied linguistics: a critical introduction. Mahawah, NJ: Lawrence Erlbaum.

ROJO, R.H.R. (2006). Fazer linguística aplicada em perspectiva sócio-histórica: privação sofrida e leveza de pensamento. In: Moita Lopes, L.P. (org.), Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, pp. 253-276.

SANTOS, M. (2017). Toward an other globalization: from the single thought to universal conscience. Switzerland: Springer.

SPIVAK, G. C. (1988). Can the subaltern speak? In: Nelson, C. e Grossberg, L. (eds.), Marxism and the interpretation of culture. London: Macmillan Education LTD, pp. 271-313.

TILIO, R.C. (2006). O livro didático de inglês em uma abordagem sócio-discursiva: culturas, identidades e pós-modernidade. Tese de doutorado em Letras. Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro.

TILIO, R.C. (2013). Repensando a abordagem comunicativa: multiletramentos em uma abordagem consciente e conscientizadora. In: Rocha, C.H. e Maciel, R.F. (org.), Língua estrangeira e formação cidadã: por entre discursos e práticas. São Paulo: Pontes Editores, pp. 51-67.

TILIO, R.C. (2017) Ensino crítico de língua: afinal, o que é ensinar criticamente? In: Jesus, D.M.; Zolin-Vesz, F.; Carbonieri, D. (org), Perspectivas críticas no ensino de línguas: novos sentidos para a escola. Campinas, SP: Pontes Editores, pp. 19-31.

UNITED NATIONS. (1948). Universal Declaration of Human Rights. Available at: https://www.un.org/en/udhrbook/pdf/udhr_booklet_en_web.pdf. Access on: 17 set. 2019.

VOLOŠÍNOV, V.N. (1926-1930). Il linguaggiocome pratica sociale. Bari: Dedalo libri, 1980.

VOLOŠINOV, V.N. (1930). Marxism and the philosophy of language. New York: Seminar Press, INC, 1973.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2020 Trabalhos em Linguística Aplicada

Downloads

Não há dados estatísticos.