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Repertórios indígenas, voz e agência na escrita de relatórios de pesquisa de mestrado
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Palavras-chave

Ideologias de linguagem
Repertórios comunicativos
Letramentos acadêmicos
Escrita acadêmica indígena
Português como língua adicional

Como Citar

CARVALHO, Simone da Costa; SCHLATTER, Margarete. Repertórios indígenas, voz e agência na escrita de relatórios de pesquisa de mestrado. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 61, n. 3, p. 712–732, 2022. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8670010. Acesso em: 27 abr. 2024.

Resumo

Com base nos conceitos de ideologias de linguagem, repertórios comunicativos e letramentos acadêmicos, este estudo de caso examina o uso da linguagem e a escrita acadêmica de dois pós-graduandos em duas universidades federais brasileiras. Foram analisadas duas dissertações de mestrado de autores avá-guarani e kaingang para verificar de que modos se apropriam do português para participar dessa prática acadêmica. A partir da análise do conteúdo, da estrutura composicional e dos recursos de linguagem utilizados, buscou-se compreender os propósitos de escrita e a interlocução projetados pelos autores, o uso que fizeram de seus repertórios comunicativos e as formas de articulação da escrita para produzir conhecimentos. Os resultados mostram que os autores se apropriaram do português e da escrita acadêmica para os propósitos de denunciar e posicionar-se como autor/a indígena frente a dificuldades e violências sofridas, expor e defender modos de se fazer pesquisa, e registrar conhecimentos de seus povos, recriando o relatório de pesquisa para servir a suas agendas políticas e sociais em uma interlocução com indígenas e não indígenas. Se, por um lado, os trabalhos seguem as normas composicionais do gênero dissertação, também as subvertem na medida em que o repertório usado combina recursos do português por vezes distantes da norma privilegiada esperada nas práticas acadêmicas, recursos do guarani e do kaingang e outros elementos multimodais. A circulação e a legitimação desses repertórios indígenas nas práticas acadêmicas questionam ideologias de linguagem vigentes e apontam para possibilidades de convivências mais democráticas na universidade.

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