Resumo
Este artigo desenvolveu-se a partir da minha apresentação proferida no Colóquio Internacional Exodus e GEDLit Universidade Estadual. Nele, apresento uma leitura do Slam das Minas Coimbra que nasceu em 2020, o primeiro slam no contexto português que se concentra nas questões de género, raça, sexualidade, tendo especialmente como pano de fundo a experiência da migração na sociedade pós-colonial portuguesa. À medida que avanço, realizo uma contextualização do território no qual o coletivo surge. Colocando em evidências diversos contrastes sociais, entre os quais, as retóricas da modernidade/colonialidade ancoradas às práticas sociais, anualmente repetidas e ritualizadas, designadas como “praxes” (“trotes”). Em seguida, exponho como o Slam das Minas Coimbra tateia as feridas coloniais, possibilitando um olhar crítico sobre a criação da “Comunidade de Países de Língua Portuguesa”, considera como instrumento do sonho da “lusofonia”, que reativa a raiz neocolonial. Por fim, partindo da inspiração de Gayatric Spivak (2009) para apropriar-se da linguagem imaginativa a fim desmascarar o nacionalismo cultural, revelo como o poema “anticamoniano” da artista brasileira Artgk desconstrói a ficção colonial, alicerce da poesia de Luís de Camões, e a necessidade de transgredir a norma (culta, europeia) do português de Portugal, dando espaço para a plurilinguística dos falantes de português na sociedade portuguesa pós-colonial.
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