Resumo
Apresentamos resultados parciais de um projeto de pesquisa em que vimos discutindo o papel da escrita na formação de professores. A premissa geral é a de que escrever sobre a aula pode ser um trabalho pelo qual o professor produz, para si e para outros, dados que permitem levar adiante, por meio de uma atividade posterior, a reflexão e os posicionamentos assumidos por ele no próprio momento da aula. Neste artigo, focamos a exposição de dois aspectos dessa pesquisa: a análise de tipo “polifônico”, centrada no deslindamento das “vozes” que compõem o discurso escrito sobre a aula, baseada nas ideias de O. Ducrot; e o questionamento sobre o que a configuração do enunciado pode dizer acerca do “sujeito empírico” responsável por ele, afastando-nos de Ducrot em favor de Bakhtin. Os dados discutidos aqui representam dois universos: textos escritos por estudantes cursando disciplinas de prática em cursos de Letras e artigos acadêmicos sobre o ensino de língua publicados em periódicos da área. Apontamos três problemas comuns a ambas as esferas: a) o uso de termos “vicários” em substituição ao registro de informações concretas; b) a inserção de discursos citados como enunciados a que se responde e não como dados que se analisam; c) conclusões sobre o ensino que não se vinculam aos dados ou análises apresentadas. Sintetizamos os resultados das análises afirmando que, quando se trata de discutir o que se passa na sala de aula, mesmo quando se escutam as “vozes” que emanam desse espaço, não se lhes confere um estatuto claro de dado, dando-se aos discursos citados tratamentos diversos e fazendo com que o discurso resultante seja inconsistente enquanto análise da aulaReferências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11ª edição. São Paulo: Hucitec, 2004.
CAREL, Marion; DUCROT, Oswald. Atualização da polifonia (Mise au point sur la polyphonie). Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, v. 6, n. 1, p. 9-21, jan/jun. 2010.
DUCROT, Oswald. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. In: O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987a, p. 161-218
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PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni Pulcinelli Orlandi [et al.]. 2ª edição. Campinas: Unicamp, 1995.
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