Banner Portal
A linguagem e a dimensão do corpo na Síndrome Congênita do Zika Vírus
PDF

Palavras-chave

Linguagem
Corpo
Zika
Interprofissionalidade
Fonoaudiologia

Como Citar

PIMENTEL, Carla Santos; CATRINI, Melissa; ARANTES, Lúcia. A linguagem e a dimensão do corpo na Síndrome Congênita do Zika Vírus: um estudo de caso. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 60, n. 2, p. 483–499, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8660673. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Após o surto relacionado ao vírus Zika (ZIKV) no Brasil, entre os anos de 2015 e 2016, gestantes que haviam sido infectadas tiveram bebês com sequelas neurológicas importantes. Na época, foram relatados diversos casos de microcefalia associada a outras desordens neurológicas. Esse episódio se configurou como emergência em saúde pública de caráter mundial e diferentes estudos foram (e têm sido) realizados para acompanhar os bebês que haviam sido expostos a infecção congênita relacionada ao ZIKV. Essas crianças apresentam alterações neurológicas específicas, as quais são descritas na literatura como: microcefalia, desproporções craniofaciais, espasticidade, convulsões, irritabilidade, artrogripose, disfunções de tronco cerebral – disfagia e anormalidades oculares -, alterações auditivas, calcificações cerebrais, desordens corticais e ventriculomegalia. (ARAÚJO, et. al., 2016; FRANÇA, et. al., 2016; MIRANDA, et. al.,2016; MOORE, et. al.,2017) Visto o número reduzido de estudos dedicados a linguagem nesse cenário, o objetivo da pesquisa é refletir sobre a linguagem e a dimensão do corpo em crianças com lesões neurológicas associadas a Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). A discussão tomou como referência o momento em que essas crianças começam a frequentar o espaço escolar. Assim, a partir do recorte metodológico de estudo de caso e da observação participante, foram realizadas filmagens de situações dialógicas, ocorridas no ambiente escolar, entre uma criança diagnosticada com a SCZV e seus colegas, professores, a Auxiliar de Desenvolvimento Infantil e uma pesquisadora. Como resultado, evidenciamos a presença de um corpo que, mesmo submetido às limitações impostas pela lesão orgânica, fazia presença no diálogo pedindo por interpretação. A técnica da observação participante possibilitou que essa presença pudesse ser reconhecida no espaço escolar, o que nos mostra a maneira pela qual o encontro interprofissional pode produzir deslocamentos que levem um profissional da educação a ocupar uma posição que dê condições para mudanças serem operadas na relação da criança com a linguagem e com o grupo.

PDF

Referências

ALVES, L. V.; PAREDES, C. E.; SILVA, G. C.; MELLO, J. G.; ALVES, J.G. (2018). Neurodevelopment of 24 children born in Brazil with congenital Zika syndrome in 2015: a case series study. BMJ Open. v.8, n.7, p.1-5. Disponível em: http://bmjopen.bmj.com/ Acesso em: 14 abril 2019.

ANDRADE, L. M (2003). Ouvir e escutar na constituição na clínica de linguagem. Tese de Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

ANDRADE, L. M. (2005). Considerações sobre a escuta na clínica de linguagem. Cadernos de Estudos Linguísticos. v. 7, n. 1 e 2, p. 167-174.

ARANTES, L. M. (2001). Diagnóstico e clínica de linguagem. Tese de Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

ARANTES, L. M. (2005). Sobre os efeitos do interacionismo no diagnóstico de linguagem. Cadernos de Estudos de Linguísticos. v. 47, n.1, p. 151-157.

ARANTES, L. M. (2006). Sobre a instância diagnóstica na clínica de linguagem. In: Lier-DeVitto M. F.; Arantes, L. M. (org.) Aquisição, Patologias e Clínica de Linguagem. São Paulo: Editora PUC SP, p. 315-329.

ARANTES, L. M. (2009). Diagnóstico de linguagem: sobre os efeitos das falas sintomáticas. In: Simpósio Nacional de Letras e Linguística II Simpósio Internacional de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/uploads/2014/04/silel2009_gt_lg23_artigo_7.pdf. Acesso em: 22 abril 2021.

ARAÚJO, T. V. B.; RODRIGUES, L.C.; XIMENES, R.A.A.; MIRANDA-FILHO, D.B.; MONTARROYOS, U.R.; MELO, A.P.L. et. al. (2016). Association between Zika virus infection and microcephaly in Brazil, January to May, 2016: preliminary report of a case-control study. The Lancet. v.16, n.12, p.1356-1363 Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/S1473-3099(16)30318-8. Acesso em: 14 abril 2019

BAYLEY, N. (2006). Bayley Scales of Infant and Toddler Development. (3rd ed.). San Antonio: The Psychological Corporation.

BERGÉS, J. (2008). O corpo na Neurologia e na Psicanálise: lições clínicas de um psicanalista de crianças. Porto Alegre: Editora CMC.

BELTRAO, F. R.; CARVALHO, G. M. (2008). A singularidade do papel do outro na aquisição de linguagem de crianças abrigadas. Psicol. teor. Prat. v. 10, n. 1, p. 79-94.

BRASIL, Ministério da Saúde. (2019). Síndrome Congênita associada à infecção pelo Vírus Zika: Situação epidemiológica, ações desenvolvidas e desafios de 2015 a 2019. Boletim Epidemiológico.

BRAUER, J. F. (1998). O sujeito e a deficiência. Estilos da clínica. v. 3, n. 5, p. 56-62.

CARVALHO, A et al. (2019). Clinical and neurodevelopmental features in children with cerebral palsy and probable congenital Zika. Brain Development. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.braindev.2019.03.005 Acesso em: 14 abril 2019

CARVALHO, G. M. (2006). Levantamento de questões sobre a fala da criança como objeto de estudo no campo da aquisição de linguagem. Intercâmbio. v. 1, p. 1-6.

CARVALHO, G. M. (2009). A singularidade da fala da criança e o estatuto do investigador da aquisição de linguagem. Intercâmbio. v. 1, p. 10-14.

CARVALHO, G. M. (2013). O investigador e a teoria: uma questão no campo da aquisição de linguagem. Letras de Hoje. v. 48, p. 283-289.

CARVALHO, G. M. (2017). Questões sobre o investigador da trajetória linguística da criança. Revista Intercâmbio. v. XXXIV, p. 58-70.

CATRINI, M., LIER-DEVITTO, M. F.; ARANTES, L. M. (2015). Apraxias: considerações sobre o corpo e suas manifestações motoras inesperadas. Cadernos de Estudos Linguísticos. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20396/cel.v57i2.8642396 Acessado em: 02 jun 2020

CATRINI, M.; LIER-DEVITTO, M. F. (2019). Apraxia de fala e atraso de linguagem: a complexidade do diagnóstico e tratamento em quadros sintomáticos de crianças. CODAS, v. 31, p. 1-6.

COSTELLO, A.; et al. (2016). Defining the syndrome associated with congenital Zika virus infection. Editorials Bull World Health Organ. Disponível em: http://dx.doi.org/10.2471/BLT.16.176990 Acesso em: 14 abril 2019

DINIZ, D. (2007). Modelo social da deficiência. In: DINIZ, D. (org.). O que é deficiência?. São Paulo: Editora Brasiliense, p. 7-33.

DUDAS, T. L. (2009). Paralisia cerebral e institucionalização: efeitos subjetivos e clínica de linguagem. Tese de Mestrado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

DUDAS, T. L. (2016). Problemas de linguagem e descompasso na inclusão escolar. Tese de Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

DUDAS, T. L.; LIER-DEVITTO, M. F. (2016). Institucionalização de pessoas com paralisia cerebral: a difícil relação sujeito – outro – linguagem. Linguística. v. 32-1, p. 9-23.

FONSECA, S. C. (2002). O afásico na clínica de linguagem. Tese de Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC SP, São Paulo.

FRANÇA, G. V. A.; Lavinia Schuler-Faccini 2, Wanderson K Oliveira 1, Claudio M P Henriques 1, Eduardo H Carmo 1, Vaneide D Pedi 1, Marília L Nunes 1, Marcia C Castro 3, Suzanne Serruya 4, Mariângela F Silveira 5, Fernando C Barros 6, Cesar G Victora (2016). Congenital Zika virus syndrome in Brazil: a case series of the first 1501 livebirths with complete investigation. The Lancet, v. 388, p. 891–897.

FRANKENBURG, W. K.; et. al. (1992). Denver II: training manual. Denver Developmental Materials. Edição: 2nd ed. Denver, USA.

GOODWIN, C. (2007). Participation, stance and affect in the organization of activities. Discourse Society. v.18, p.53-73.

LEMOS, C. T. G. (1992). Los processos metafóricos y metonímicos como mecanismos de cambio. Substratum, v. 1, n. 1, p. 120-130.

LEMOS, C. T. G. (2002). Das vicissitudes da fala da criança e de sua investigação. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 42, p. 41-70.

LEMOS, C. T. G. (2006). Uma crítica (radical) à noção de desenvolvimento na aquisição de linguagem. In: Lier-DeVitto M. F.; Arantes, L. M. (org.) Aquisição, Patologias e Clínica de Linguagem. São Paulo: Editora PUC SP, p. 21-30.

LIER-DEVITTO, M. F. (2006). Sobre a posição do investigador e a do clínico frente a falas sintomáticas. Letras de Hoje, v. 39, n. 3, p. 47-60.

LIER-DEVITTO, M. F. (2005). Falas sintomáticas: um problema antigo, uma questão contemporânea. In: FREIRE, M; ABRHÃO, M.H.; BARCELOS, A.M. F. (orgs.). Linguística Aplicada e Contemporaneidade. Campinas: Pontes Editores, p. 317-327.

LIER-DEVITTO, M. F; ARANTES, L. M. (1998). Sobre os efeitos da fala da criança: da heterogeneidade desses efeitos. Letras de Hoje, v. 33 n. 2, p. 65-71.

LIER-DEVITTO, M. F; ARANTES, L. M. (2020). Incidências da novidade Saussureana no Interacionismo e na Clínica de Linguagem. Revista Estudos em Letras, v. 1, n. 1, p. 65-76.

LIER-DEVITTO, M. F.; EMENDABILI, M. (2015). Uma posição sobre a escuta na clínica de linguagem. Linguística. v.31, n. 2, p. 73-82. Disponível em: http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2079-312X2015000200006&lng=es&nrm=iso Acesso em: 02 jun. 2020.

MINAYO, M. C. S. (2014). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Editora Hucitec.

MIRANDA-FILHO DB, et al. (2016). Initial Description of the presumed congenital Zika syndrome. Am J Public Health. Disponível em: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2016.303115 Acesso em: 14 abril 2019.

NASIO, J. D. (2001). Que é um caso?. In: NASIO, J. D. Os grandes casos de psicose. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, p. 9-32.

MOORE, C. et al. (2017). Congenital Zika Syndrome: Characterizing the Pattern of Anomalies for Pediatric Healthcare Providers. JAMA Pediatr. v.131, n.3, p. 288-295. Disponível em: doi:10.1001/jamapediatrics.2016.3982 Acesso em: 14 abril 2019

NUNES, M. L.; KAMPFF, J. P. R; SADEH, A. (2012). BISQ Questionnaire for Infant Sleep Assessment: translation into Brazilian portuguese. Sleep Sci. v.5, n. 3, p.89-91.

OLIVEIRA, D.; CATRINI, M. (2017). Questões dobre o corpo na aquisição e na clínica de linguagem. Estudos Linguísticos e Literários. n. 57, p. 366-381.

ROSENBAUM P; et al. (2007). A report: The definition and classification of cerebral palsy April 2006. Dev Med Child Neurol. v.49, p.8–14.

SANTOS, B. S.; CATRINI, M.; FERRITE, S. (2018). A necessidade de estudos linguísticos na compreensão do processo de aquisição de linguagem em crianças com a Síndrome Congênita do Zika Vírus. In: 21º InPLA - Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada, 2018, São Paulo. Caderno de resumos 21º InPLA - Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada, v. Único. p. 122-122.

SPINA-DE-CARVALHO, D. C. (2003). Clínica de Linguagem: algumas considerações sobre interpretação. Tese de Mestrado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

SQUIRES, J; et al. (2009). Ages & Stages Questionnaires: a parent-completed child monitoring system. Baltimore: Editora Paul H. Brookes Publishing.

SAUSSURE, F. (1913). Curso de Linguística Geral. São Paulo: Editora Cultrix, edição 28, 4ª reimpressão. 2012.

TESSER, E. (2012). O diálogo na Clínica de Linguagem: considerações sobre transferência e intersubjetividade. Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

VASCONCELLOS, R. (1999). Paralisia cerebral: a fala na escrita. Tese de Mestrado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

VASCONCELLOS, R. (2006). Fala, escuta, escrita: a relação sujeito-linguagem no caso de uma criança com paralisia cerebral que não oraliza. In: Lier-DeVitto M. F.; Arantes, L. M. (org.) Aquisição, Patologias e Clínica de Linguagem. São Paulo: EDUC, p. 289-311.

VASCONCELLOS, R. (2010). Organismo e sujeito: uma diferença sensível nas paralisias cerebrais. Tese de Doutorado em Linguística. Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUC, São Paulo.

VASCONCELLOS, R. (2018). Efeitos da clínica de linguagem em casos de sujeitos com paralisia cerebral. Revista de Estudos da Linguagem, v. 26, n. 1, p. 355-387.

WHEELER AC; VENTURA, C.V.; RIDENOUR, T.; TOTH,D.;NOBREGA, L.L.; DANTAS, L.C.S.S.; ROCHA, C.; BAILEY JR., D.B.; VENTURA, L.O. (2018) Skills attained by infants with congenital Zika syndrome: Pilot data from Brazil. PLoS ONE. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0201495 Acesso em: 14 abril 2019.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2021 Trabalhos em Linguística Aplicada

Downloads

Não há dados estatísticos.