Banner Portal
Branquitude e epistemologia antirracista
PDF

Palavras-chave

Epistemologia antirracista
Branquitude
Decolonialidade
Interseccionalidade
Linguística Aplicada Crítica

Como Citar

BORGES, Thais Regina Santos. Branquitude e epistemologia antirracista: por uma linguística aplicada efetivamente crítica. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 60, n. 3, p. 826–840, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8661851. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

O objetivo deste trabalho é propor uma reflexão crítica acerca do papel da branquitude na produção de saberes acadêmicos na Linguística Aplicada Crítica, consonante com seu horizonte de justiça social, ao se ocupar de fenômenos sociais em que a linguagem enquanto sociossemiose tem papel fundamental. Apoiada no paradigma simultaneamente decolonial (CURIEL, 2017) e interseccional (COLLINS, 1990), defendo sua vocação necessariamente antirracista, no contexto dos embates contra-hegemônicos de uma academia entendida como instanciação do mundo “cubo-branco” (KILOMBA, 2019), para configurar a área como verdadeiramente crítica, a partir da consolidação de uma epistemologia antirracista que atravesse o campo. Nesse sentido, destaco a necessidade de escrutínio da branquitude enquanto conjunto de práticas sociais (CONCEIÇÃO, 2020), refletindo sobre performances raciais (MELO, 2018) da branquitude crítica (CARDOSO, 2017) na academia. Tendo como pressuposto o caráter crítico-reflexivo da pesquisa em si (DE FINA, 2015), destaco a pertinência da escuta ativa e de processos de auto-escuta, em que há a possibilidade de “se ouvir escutando" (SOUZA, 2011), a fim de driblar a transparência de ideologias racistas da branquitude performadas discursivamente por analistas brancos, brancas e branques em seu silêncio performativo de racismo (BENTO, 2002). Trazendo a ideia de transformação social para dentro do próprio campo, proponho pensar o “estudo” (HARNEY; MOTEN, 2013), uma forma de oposição à produção de conhecimento, que é expoente de um fazer acadêmico colonial e colonizado, em consonância com a performatividade afetiva do “sentir crítico”, para articular novos modos de ser, estar, agir e sentir no/ com o mundo (AUTOR, 2017a).

 

PDF

Referências

AHMED, S. (2004). The Cultural Politics of Emotion. Edinburgh University Press.

ALMEIDA, S. (2018). Racismo Estrutural. Belo Horizonte: Letramento: Justificando.

ANZALDÚA, G.. (1987). Making Face / Making Soul Haciendo Caras. Creative and Critical Perspectives by Women of Color. San Francisco: Aunt Lute.

BAIRROS, L. (1995). Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas, 3 (2), pp. 458-463.

BENTO, M. A. S.(2002). Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S.(Org). Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes.

BORGES, T. R. S. (2017a). Por um sentir crítico: um olhar feminista interseccional sobre a socioconstrução de identidades sociais de gênero, raça/etnia e classe de professoras de línguas. Rio de Janeiro – Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Disponível em: http://tiny.cc/TRSBorges2017 Acesso: 20.07.2021.

BORGES, T. R. S. (2017b). “Pelo amadurecimento de um “sentir crítico”: entendendo a socioconstrução de identidade de uma professora negra e seus atravessamentos interseccionais. Revista Veredas. Atemática. PPG Linguística/ UFJF. Juiz de Fora, Vol. 21 no.2. Disponível em: http://tiny.cc/SentirCriticoVEREDAS Acesso: 20.07.2021.

BUTLER, J. (1990). Gender trouble: feminism and the subversion of identity. New York: Routledge.

BUTLER, J. (2004). Undoing Gender. New York/London: Routledge.

BUTLER , J. (2014). When gesture becomes event. Theater Performance Philosophy – International Conference: Crossings and Transfers in Contemporary Anglo-American Thought. Disponível em: https://goo.gl/UUjwK0 Acesso: 20.07.2021.

CARNEIRO, S. (2005) A Construção do Outro como não-ser como fundamento do ser. Tese de Doutorado em Educação. Área da Filosofia da Educação. Universidade de São Paulo, SP.

CARDOSO, L. (2017). A Branquitude Crítica Revisitada e as Críticas. In: MULLER, T. M. P.; CARDOSO, L. (Orgs.). Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Appris, 2017.

CARONE, I.; BENTO, M. A. S .(2014). Psicologia Social do Racismo: Estudos sobre a branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.

CÉSAIRE, A (1978). Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Sá da Costa.

COLLINS, P. H. (1990). Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. New York: Routledge.

COLLINS, P. H. (2017). Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória. Revista Parágrafo. 2017. pp.6-17.

COLLINS, P.; BILGE, S. (2016). Intersectionality. Cambridge: Polity Press.

CONCEIÇÃO, W. L. (2020). Branquitude: dilema racial brasileiro. Rio de Janeiro (RJ): Papéis Selvagens, 2020. Disponível em: http://www.papeisselvagens.com/livros-para-download.html Acesso: 20.07.2021.

CURIEL, O. (2017). Feminismo Decolonial. Prácticas Políticas Transformadoras. Conferencia, 2017. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=B0vLlIncsg0 Acesso: 20.07.2021.

DAVIS, A. Y .(1983). Women, race and class. New York: Vintage books, 1983.

DE FINA, A. (2015). Narrative and Identities. In: DE FINA, A.; GEORGAKOPOULOU, A. The Handbook of Narrative Analysis. John Wiley & Sons, Inc. Published. pp. 119-139.

EDDO-LODGE, E. Why I’m no longer talking to white people about race. Bloomsbury Publishing, 2017.

FABRICIO, B. F.. (2006). Linguística Aplicada como espaço de “desaprendizagem”: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma linguística Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, pp.45-63.

FERREIRA, A. J. Letramento racial crítico através de narrativas autobiográficas: com atividades reflexivas. Ponta Grossa: Editora Estúdio Texto, 2015.

FREIRE, P. (1995). Pedagogia da Tolerância. Rio de Janeiro/ São Paulo: Paz e Terra. 2020.

GONZALEZ, L. (1984). Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs. pp. 223-244.

HALBERSTAM, J. (2013). The Wild Beyond: With and for the Undercommons. In: HARNEY, S; MOTEN, F. The Undercommons: Fugitive planning and Black Study. Wivenhoe /New York /Port Watson: Minor Compositions.

HARAWAY, D. (1988). Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective. Feminist Studies, Vol. 14, No. 3. Autumn. pp. 575-599.

HARNEY, S. (2018). Stefano Harney on Study. YouTube canal oficial: Stefano Harney. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=uJzMi68Cfw0 Acesso: 20.07.2021.

HARNEY, S.; MOTEN, F. (2103). The Undercommons: Fugitive planning and Black Study. Wivenhoe /New York /Port Watson: Minor Compositions, 2013.

KILOMBA, G. (2016). O racismo é uma problemática branca, diz Grada Kilomba. Carta Capital. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/201co-racismo-e-uma-problematica-branca201d-uma-conversa-com-grada-kilomba/ Acesso: 20.07.2021.

KILOMBA, G. (2019). Exposição Desobediências Poéticas, Pinacoteca, São Paulo. Disponível em: https:// pinacoteca.org.br/en/programacao/grada-kilomba-poetic-disobediences/Acesso: 20.07.2021.

KILOMBA, G. (2020). Memórias da Plantação. Rio de Janeiro: Cobogó.

LEITE, I. B. (2020) Prefácio: Branquitude: a mais nítida face do racismo no Brasil e no mundo. In: CONCEIÇÃO, W. L. Branquitude: dilema racial brasileiro. Rio de Janeiro (RJ): Papéis Selvagens, pp.13-16.Disponível em: http://www.papeisselvagens.com/livros-para-download.html Acesso: 20.07.2021.

LIMA, F. (2018). Comunicação pessoal. Aula da disciplina: Bio/Necropoder, no CEFET, Rio de Janeiro.

LINDE, C. (1993). Life stories: The creation of coherence. NY/Oxford: Oxford University Press.

MENEZES DE SOUZA, L. M. (2011) Para uma redefinição de letramento crítico: conflito e produção de significação. In: Maciel, R. F.; Araújo, V. A. (Org.) Formação de professores de Línguas: ampliando perspectivas. Jundiaí: Paco Ed.. pp.128-140.

MBEMBE, A. (2018). A crítica da razão negra. São Paulo: N-1 edições.

MELO, G. C. V. (2019). Slave Trade Ads in the 19th Century: Textual Trajectory, Entextualization and Indexical Orders Mobilized on Contemporary Ads. Rev. Bras. Linguíst. Apl., Ahead of Print.

MOITA LOPES, L. P. (2006) Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial.

MOITA LOPES, L. P. (2013). Linguística Aplicada na Modernidade recente. São Paulo: Parábola Editorial.

MULLER, T. M. P.; CARDOSO, L. (Orgs.). (2017). Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Appris.

MUNANGA, K. (2004). Rediscutindo Mestiçagem no Brasil. Identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte / São Paulo: Grupo Autêntica.

NASCIMENTO, T. (2019) a branquitude é um lugar de fala. Medium.com Conta oficial: @tatiananascivento Disponível em: shorturl.at/duzV4 Acesso: 20.07.2021.

PENNYCOOK, A. (2008). Critical applied linguistics and language education. In: S. May and N. H. Hornberger (Eds). Encyclopedia of Language and Education, 2nd Ed, v.1. Springer Science & Business Media LLC. pp. 169-181.

QUIJANO, A. (2010). Colonialidade do poder e classificação social. In: SOUSA SANTOS, B. MENESES, M. P. (Orgs) (2010). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez.

RAMOS, A. G. (1995). Introdução à Sociologia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

SCHUCMAN, L. V. (2012). Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de Doutorado em Psicologia Social. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, SP.

SILVERSTEIN, M. (2003). Indexical order and the dialectics of sociolinguistic life. Language & Communication, 23, pp. 193-229.

SILVERSTEIN, M. (2006). Pragmatic Indexing. The University of Chicago: Elsevier Ltd.

SOUSA SANTOS, B. MENESES, M. P. (Orgs) (2010).Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2021 Trabalhos em Linguística Aplicada

Downloads

Não há dados estatísticos.