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Deutsches Fest
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Palavras-chave

mercantilização da linguagem, comunidade de imigração, festa.
Mercantilização da linguagem
Comunidade de imigração
Festa

Como Citar

JUNG, Neiva Maria; MACHADO E SILVA, Regina Coeli. Deutsches Fest: vergonha e orgulho em um evento de mobilizações simbólicas e econômicas. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 60, n. 2, p. 364–378, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8664776. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Neste artigo temos como objetivo examinar práticas de linguagem que circunscrevem fenômenos de mercantilização de linguagem em um evento festivo ‒ Deutsches Fest ‒que acontece anualmente em uma cidade do Oeste do Paraná. A contribuição do artigo é argumentar que houve alterações cruciais de usos de linguagem, que, de marca de identidade (orgulho), passou a linguagem como recurso ou valor comercial agregado para a festa (lucro), conforme mostram Heller e Duchêne (2012, 2016), e que de lucro houve uma mudança no sentimento de alguns moradores, que se envergonhavam de serem “colonos alemães”, e hoje se orgulham de serem do local. A festa atualiza a história dos moradores, descendentes de imigrantes alemães vindos do Rio Grande do Sul na década de 1960, e as identidades local/regional e nacional (“alemães” versus cidadãos brasileiros), mostrando como esse evento possibilitou essa mudança identitária. Nosso foco são as práticas de linguagem escrita e oral ‒ anúncios em jornais, comerciais da mídia, entrevistas, postagens no Facebook, programas de tevê ‒, e práticas semióticas ‒ as cores da bandeira alemã e o vestuário ‒ na realização da festa, um evento público e coletivo com duração de três dias. Os resultados sugerem que essas práticas são mobilizações simbólicas e econômicas da linguagem que tanto impulsionam o evento turístico comercial quanto promovem discursos de orgulho pelo pertencimento a uma “cultura alemã local”.

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Referências

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