Banner Portal
“Resistindo na boca da noite um gosto de sol”
PDF

Palavras-chave

Democracia
Pós-estruturalismo
Letramentos queer
Pedagogia do questionamento
Educação linguística

Como Citar

PESSOA, Rosane Rocha; FREITAS, Marco Túlio de de Urzêda. “Resistindo na boca da noite um gosto de sol”: pedagogia da pergunta como resistência democrática na educação linguística. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 60, n. 1, p. 217–232, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8662108. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

Valendo-nos de pressupostos pós-estruturalistas e dos letramentos queer, em especial da pedagogia da pergunta proposta por Nelson (1999), nosso objetivo, neste artigo, é mostrar como repertórios sobre diversas esferas da vida social podem ser abordados democraticamente na educação linguística, propiciando a mobilização de significados plurais e contraditórios, bem como a articulação de resistências democráticas em sala de aula. Para tanto, revisitamos repertórios e performances de gênero e sexualidade discutidos na dissertação de mestrado de Hoelzle (2016), fazendo uma reentextualização do material empírico gerado pela autora e uma discussão em que defendemos a pedagogia da pergunta, que é habilmente desenvolvida por ela, embora esse não seja um construto praxiológico da sua pesquisa. A escolha desses dois temas de discussão, gênero e sexualidade, é providencial no contexto brasileiro, já que ambos atravessam uma parte considerável dos repertórios mobilizados e das medidas tomadas pelo atual governo para restringir a construção de sentidos críticos nos contextos educacionais. Nos seis eventos comunicativos, a pedagogia da pergunta é sempre marcada pelo conflito, advindo de diferentes historicidades e performances socioidentitárias das pessoas envolvidas nos eventos comunicativos. Assim, concluímos argumentando que, pelo fato de a linguagem permitir a produção de significados múltiplos e alternativos sobre a vida social, não podemos deixar de construir, nos contextos de educação linguística, sentidos que possibilitem a construção de enquadres mais democráticos. Essa construção é nosso “gosto de sol” que resiste na boca da noite.

PDF

Referências

ADORNO, Theodor W. (1995). Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz & Terra.

ARONOWITZ, Stanley. (1987). Postmodernism and politics. Social Text, v. 18, p. 99-115.

BLOMMAERT, Jan. Contexto é/como crítica. In: SIGNORINI, Inês. (Org.). Situar a linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. p. 91-115.

BRAGATO, Fernanda F. (2016). Discursos desumanizantes e violação seletivo de direitos humanos sob a lógica da colonialidade. Quaestio Iuris, v. 9, n. 4, p. 1806-1823.

BRASIL. (2014). Comissão Nacional da Verdade. Mortos e desaparecidos políticos. In: BRASIL. Relatório da Comissão Nacional da Verdade, v. 3. Brasília: CNV.

BRASIL. (2017a). [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 51. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, Edições Câmara.

BRASIL. (2017b). Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 26 out. 2020.

BUTLER, Judith. (1997). Excitable speech: a politics of the performative. New York: Routledge.

DEMOCRACIA em vertigem. (2019). Direção de Petra Costa, Tiago Pavan, Joanna Natasegara, Shane Boris. Brasil: Netflix. Televisão.

FABRICIO, Branca F. (2006). Lingüística aplicada como espaço de desaprendizagem. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo. (org.), Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, p. 45-65.

FERRARI, Juliana S. (s.d.). Diferenças entre as brincadeiras de meninos e meninas. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/diferencas-entre-as-brincadeiras-meninos-meninas.htm>. Acesso em: 6 set. 2020.

FOUCAULT, Michel. (1978). The history of sexuality – volume 1: an introduction. New York: Pantheon Books.

FOUCAULT, Michel. (1988). The ethic of care for the self as a practice of freedom. In: BERNAUER, James; RASMUSSEN, David M. (ed.), The final Foucault. Cambridge, MA: MIT Press, p. 1-20.

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GOFFMAN, Erving. (1974). Frame analysis: an essay on the organization of experience. Boston: Northeastern University Press, 1986.

GOFFMAN, Erving. (2002). Footing. In: RIBEIRO, Branca T.; GARCEZ, Pedro M. (org.), Sociolinguística Interacional. São Paulo: Edições Loyola, p. 107-148.

GUGLIANO, Mônica. (2020). Vou intervir! O dia em que Bolsonaro decidiu mandar tropas para o Supremo. Revista Piauí. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vou-intervir/?amp>. Acesso em: 03/09/2020.

HOELZLE, Maria José L. R. (2016). Desestabilizando sociabilidades em uma sala de aula de Língua Inglesa de uma escola pública. Dissertação de Mestrado em Estudos Linguísticos. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

IG. (2020). Bolsonaro manda jornalista “calar a boca” e nega agressão à imprensa em protesto. iG Mail: Último Segundo. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2020-05-05/bolsonaro-manda-jornalista-calar-a-boca-e-nega-agressao-a-imprensa-em-protesto.html>. Acesso em: 3 nov. 2020.

JAGOSE, Annamarie. (1996). Queer theory: an introduction. Ney York: New York University Press.

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. (2018). Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar.

LOURO, Guacira L. (2004). Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica.

LOURO, Guacira L. (2012). Os Estudos Queer e a educação no Brasil: articulações, tensões, resistências. Contemporânea: Dossiê Saberes Subalternos, v. 2, n. 2, p. 363-369.

MASON, Mark; CLARKE, Matthew. (2010). Post-Structuralism and education. In: PETERSON, Penelope; BAKER, Eva; MCGRAW, Barry. (ed.), International Encyclopedia of Education. 3. ed. Oxford: Elsevier, p. 175-182.

MACLURE, Maggie. (2003). Discourse in educational and social research. Buckingham: Open University.

MISKOLCI, Richard. (2012). Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica Editora.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da; FABRÍCIO, Branca F. (2013). Desestabilizações queer na sala de aula: “táticas de guerrilha” e a compreensão da natureza performativa dos gêneros e das sexualidades. In: PINTO, Joana P.; FABRÍCIO, Branca F. (org.), Exclusão social e microrresistências: a centralidade das práticas discursivo- identitárias. Goiânia: Cânone Editorial, p. 283-301.

NASCIMENTO, Milton. (1972). Nada será como antes. Odeon. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/47436/>. Acesso em: 26 out. 2020.

NELSON, Cynthia. (1999). Sexual identities in ESL: queer theory and classroom inquiry. TESOL Quarterly, v. 33, n. 3, p. 371-391.

OLIVEIRA, Marcus Vinícius X. (2018). Quais as bases para a resistência democrática? É possível pensarmos em um agir puramente estratégico? In: O crescimento do fascismo e os desafios da resistência democrática. Universidade Federal de Rondônia: Pró-reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis, p. 1-6.

PESSOA, Rosane R. (2014). A critical approach to the teaching of English: pedagogical and identity engagement. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 14, n. 2, p. 353-372.

PESSOA, Rosane R.; URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de. (2012). Challenges in critical English teaching. TESOL Quarterly, v. 46, n. 4, p. 753-776.

PESSOA, Rosane R.; URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de. (2016). Língua como espaço de poder: uma pesquisa de sala de aula na perspectiva crítica. Revista Brasileira de Linguistica Aplicada, v. 16, n. 1, p. 133-156.

PINHO, Osmundo de A. (2004). Qual é a identidade do homem negro? Democracia Viva, n. 22, p. 64-69.

PINTO, Joana P. (2002). Performatividade radical: ato de fala ou ato de corpo. Gênero, v. 3, n. 1, p. 101-110.

PRATT, Mary Louise. (2012). “If English was good enough for Jesus…”: Monolinguismo y mala fe. Critical Multilingualism Studies, v. 1, n. 1, p. 12-30.

REDAÇÃO NONADA. (2019). Para nunca esquecer: 8 relatos de vítimas da ditadura militar no Brasil. Diálogos do Sul, Opera Mundi. Disponível em: <https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/brasil/55553/para-nunca-esquecer-8-relatos-de-vitimas-da-ditadura-militar-no-brasil>. Acesso em: 26 out. 2020.

ROCHA, Luciana L. (2013). Teoria queer e a sala de aula de inglês na escola pública: performatividade, indexicalidade e estilização. Tese de Doutorado em Linguística Aplicada. Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, UFRJ, Rio de Janeiro.

SAUSSURE, Ferdinand de. (1971). Curso de lingüística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paez e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006.

SEIDMAN, Steven. (1995). Deconstructing queer theory, or the under-theorization of the social and ethical. In: NICHOLSON, Linda; SEIDMAN, Steven. (ed.), Social postmodernism: beyond identity politics. Cambridge: CUP, p. 116-141.

SHALDERS, André. (2019). Por que a ‘agenda de costumes’ de Bolsonaro deve continuar parada no Congresso em 2020. BBC News Brazil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50898836>. Acesso em: 6 set. 2020.

SIMON, Roger I. (1992). Teaching against the grain: essays towards a pedagogy of possibility. London: Bergin & Garvey.

STF. (2020). Julgadas inconstitucionais leis sobre Escola Livre e proibição de ensino de sexualidade. Imprensa. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=450392&ori=1>. Acesso em: 15 nov. 2020.

SULLIVAN, Nikki. (2003). A critical introduction to queer theory. New York: New York University Press.

URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de. (2018). Letramentos queer na formação de professorxs de línguas: complicando e subvertendo identidades no fazer docente. Tese de Doutorado em Estudos Linguísticos. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de; PESSOA, Rosane R. (2014). Discursos de identidades, ensino crítico de línguas e mudança social: análise de uma experiência localizada. In: MATEUS, Elaine; OLIVEIRA, Nilceia B. (org.), Estudos críticos da linguagem e formação de professores/as de línguas: contribuições teórico-metodológicas. Campinas-SP: Pontes Editores, p. 365-395.

URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de; PESSOA, Rosane R. (2020). Disinventing and reconstituting the concept of communication in language education. L2 Journal, v. 12, n. 3, p. 61-76.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2021 Trabalhos em Linguística Aplicada

Downloads

Não há dados estatísticos.