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Gagueira: uma questão discursiva a Stuttering: a matter of discourse
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Palavras-chave

Análise de discurso. Gagueira. Aquisição de linguagem

Como Citar

FREIRE, Regina Maria. Gagueira: uma questão discursiva a Stuttering: a matter of discourse. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 51, n. 1, p. 153–173, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645416. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

Este artigo propõe um dispositivo para teorizar a gagueira. Supõe-se que a gagueira emergiria na terceira posição do processo de aquisição de linguagem, quando podem ser observadas, nas produções das crianças, pausas, reformulações e autocorreções. Essas pausas, reformulações e autocorreções assemelham-se às repetições e hesitações que caracterizam a gagueira, gerando movimentos de estranhamento no Outro (Termo definido por Lacan como sendo o lugar do “tesouro dos significantes” ou o lugar do outro simbólico que afasta da cena o outro encarnado). Esse estranhamento pode levá-Lo a atribuir a essas repetições, pausas e hesitações, o estatuto de gagueira, ou seja, a cristalizar o manifesto, aprisionando-o ao patológico. Para dar sustentação a essa hipótese, entrevistaram-se as mães de quatro crianças gagas, cujos dizeres foram analisados alçando-se o dispositivo da Análise de Discurso de Linha francesa. Os achados apontam para os efeitos da interpretação do Outro sobre o gago e a urgência de se levar em conta a submissão da criança a um discurso, predominantemente autoritário. Concluindo, ao pensar a gênese da gagueira, seria primordial levar em conta: a) a interpretação que o Outro faz da fala da criança; b) como a criança ouve sua própria fala e c) a sobre determinação simbólica da linguagem – resignificando repetições e hesitações como inerentes ao processo de aquisição da linguagem pela criança

ABSTRACT

This paper proposes a framework for theorizing about the emergence of stuttering. The implication is that stuttering emerges in the third discursive position of the language acquisition process. In this phase, one can observe pauses, reformulations and selfcorrections in children’s productions. Because these actions resemble the repetitions and hesitations that characterize stuttering, they lead the other to erroneously attach a pathological interpretation to a set of no pathological events. If the other sees the child as a stutterer, it’s still at least partly up to the child to fulfil that role or not. Whether the child does so depends on whether (s)he sees (her)himself as a stutterer. If the child does, further interpretations of his/her speech will be from the context of this role. To support this hypothesis we interviewed the mothers of four children and analysed their discourse based on the French School of Discourse Analysis. The analysis showed the interpretation’s effects on the stutterer and points to the need to delineate the child’s susceptibility to the effects of the speech of the mother. In conclusion, when thinking about the genesis of stuttering, one should consider three important points: (a) the other’s interpretation of the child’s speech, (b) what the child hears of his/her own speech, and (c) the symbolic over determination of language - considering repetitions and hesitations as inherent to language acquisition in the child.

Keywords: discourse analysis; stuttering; language acquisition

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