Resumo
Este artigo cruza duas investigações centradas nos percursos internacionais dos artistas portugueses e as suas experiências criativas em Londres e Paris. Partindo do contexto português e dos novos desafios artísticos no período após a Segunda Guerra Mundial, o texto explora os distintos contributos dos artistas em Londres e Paris para a formulação de uma nova corrente estética, a nova-figuração, e para a abordagem da contemporaneidade, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista da nova cultura de massas e de consumo. Neste artigo, é dada ainda particular atenção à receção pela crítica portuguesa do trabalho destes artistas, que foi interpretado como sendo especificamente português, resultando de movimentos criativos anteriores e do ambiente político, económico e social do país. Esta “nacionalização” da nova-figuração é confrontada, neste estudo, com a abordagem crítica por parte dos artistas portugueses relativamente às novas correntes artísticas internacionais, como o “realismo moderno”, a pop art e o nouveau réalisme. Propõe-se, ainda, que estes artistas migrantes delinearam no contexto internacional, linhas de trabalho que complexificaram o panorama artístico europeu ao colocar em diálogo uma realidade específica, marcada pelo totalitarismo e repressão, e novas formas de expressão.Referências
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