Resumo
O artigo apresenta possibilidades para a descolonização dos processos de musealização utilizando a teoria sobre a magia de Marcel Mauss como instrumento para pensar ritualmente o trabalho técnico de preservação e transmissão de bens culturais. Aplica os conceitos teóricos propostos por Mauss à performance museal em duas instituições distintas: o Musée du quai Branly, em Paris, e o Ilê Obá Ogunté – Sítio de Pai Adão, em Recife, Pernambuco. A partir da observação etnográfica de rituais religiosos e não religiosos nas duas realidades culturais estudadas, traça algumas considerações gerais sobre os processos de profanação nos museus e nos terreiros que caracterizam o rito ocidental da musealização.
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