Processos coletivos de aprendizados dentro de espaços institucionais de arte. As exposições Nhe’ Porã: memória e transformação de Daiara Tukano e Escola Panapaná de Denilson Baniwa

Resumo

Com uma abordagem descritiva, através da observação à distancia das exposições ocorridas em São Paulo em 2022,  Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, curada por Daiara Tukano no Museu da Língua Portuguesa, e Escola Panapaná, curada por Denilson Baniwa, o artigo apresenta uma análise dos processos curatoriais desses artistas. As observações beneficiam-se também de uma série de entrevistas realizadas com alguns artistas indígenas brasileiros e do trabalho de dois anos de pesquisa sobre as praticas artísticas do povo Sámi, do Norte da Europa, realizado no âmbito do projeto A South North Dialogue on Afro-Indigenous Art. Três são os pilares que norteiam essas práticas e as diferenciam do mundo das artes ocidentais impostos pelo universalismo eurocêntrico: primeiro, uma formulação mais complexa do conceito de autoria do que no Ocidente, onde as dimensões coletiva e pessoal se fundem; segundo, a inexistência nas cosmologias indígenas da palavra (e do conceito) de arte; e em terceiro lugar, a superação da perspectiva ocidental da divisão entre arte e artesanato que – ao referir frequentemente este último às tarefas domésticas, majoritariamente realizadas por mulheres – expressa o patriarcado e o racismo implícitos nela. Finalmente, o que a análise destaca é a semelhança do caráter coletivo e pedagógico dessas práticas.