Resumo
O presente trabalho trata da segurança alimentar de famílias quilombolas residentes na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Quilombos do Turvo, no Estado de São Paulo. Apesar das drásticas transformações socioeconômicas e culturais ocorridas na região, essas famílias têm mantido suas práticas agrícolas voltadas à produção de alimentos e de modo a preservar a biodiversidade em área remanescente da Mata Atlântica. Defende-se que a produção para o autoconsumo, onde a qualidade da alimentação é gestada dentro da unidade familiar, torna-se estratégia determinante de segurança alimentar. As práticas agroextrativistas, além de ser uma estratégia de resistência com relação à permanência no território, também se constituem em resistência à homogeneização dos modos de produção propostos pelas instituições governamentais. Continuam sendo elemento essencial para a reprodução das famílias quilombolas do Vale do Ribeira, como fonte de alimentos, fonte eventual de renda e conservação da sociodiversidade. Defende-se a implantação efetiva de uma política para assistência técnica de caráter interdisciplinar, que possa proporcionar o reconhecimento e a valorização dessas atividades, tornando-as mais atrativas aos jovens, e revertendo seu fluxo migratório.Referências
Stucchi D. Laudo Antropológico: comunidades negras de Ivaporunduva, São Pedro, Pedro Cubas, Sapatu, Nhunguara, André Lopes, Maria Rosa e Pilões. São Paulo: Ministério Público Federal; 1998.
Instituto de Terras do Estado de São Paulo. Relatório Técnico Científico sobre a comunidade de quilombo do Sapatu, no município de Eldorado, no Vale do Ribeira – SP. São Paulo; 2000.
Santos KMP, Tatto N. Agenda Socioambiental de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. São Paulo: Instituto Socioambiental; 2008.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA. Documento do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais. Rio de Janeiro; 1994.
Colchester M. Resgatando a natureza: comunidades tradicionais e áreas protegidas. In: Diegues AC. Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: HUCITEC; 2000. p.101-123.
Diegues AC. O mito moderno da natureza intocada. 3.ed. São Paulo: HUCITEC; 2001.
Thrupp LA. Cultivating biodiversity: agrobiodiversity for food security. Washington DC: World Resources Institute; 1998.
Menasche R. A agricultura familiar à mesa: saberes e práticas da alimentação no Vale do Taquari. Porto Alegre: UFRGS; 2007.
Leite SP. Autoconsumo y sustentabilidad em la agricultura familiar: uma aproximación a la experiência Brasilenã. In: Belik W. Politícas de seguridad alimentar y nutrición em América Latina. São Paulo: Hucitec; 2004. p.123-28.
Ramos MO. A comida da roça ontem e hoje: um estudo etnográfico dos saberes e práticas alimentares de Maquiné (RS) [dissertação]. Porto Alegre: Faculdade de Ciências Econômicas – Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2007.
Gazolla M. Agricultura familiar, segurança alimentar e políticas públicas: uma análise a partir da produção para autoconsumo no território do Alto Uruguai [dissertação]. Porto Alegre: Faculdade de Ciências Econômicas – Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2004.
Santos IP, Ferrante VLSB. Da terra nua ao prato cheio: produção para o consumo familiar nos assentamentos rurais do Estado de São Paulo. Araraquara: Fundação ITESP; 2003.
Mintz SW. Comida e antropologia: uma breve revisão. Rev. Brasil. Ci. Soc. 2001;16(47):31-41.
Brandão CR. Tempos e espaços nos mundos rurais do Brasil. RURIS. 2007;1(1):37-64.
Santos KMP. Práticas agroalimentares em unidades de conservação de uso sustentável sob a ótica da segurança alimentar [tese]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo; 2015.
Carneiro MJ, Maluf RS. Para além da produção: multifuncionalidade e agricultura familiar. Rio de Janeiro: MAUAD; 2004.
Adams C. As florestas virgens manejadas. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. 1994;10(1):03-20.
Posey DA. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados (Kayapó). In: Ribeiro D. Suma etnológica brasileira. Petrópolis: Vozes; 1987. p.173-185.
Altieri MA. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: FASE; 1989.
Emperaire L. O manejo do espaço agrícola. In: Instituto Socioambiental. Almanaque Brasil Socioambiental: uma nova perspectiva para entender o país e melhorar nossa qualidade de vida. São Paulo: ISA; 2008. p. 421.
Santilli JA. Povos indígenas, quilombolas e populações tradicionais: a construção de novas categorias jurídicas. In: Ricardo F. Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental; 2004.
Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional. Carta da Cidade de São Paulo. São Paulo; 2003.
Certeau M, Giard L, Mayol P. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes; 1996.
Pollan E. Em defesa da comida: um manifesto. Rio de Janeiro: Intrínseca; 2008.
Cambuy AOS. Perfil alimentar da comunidade quilombola João Surá: um estudo etnográfico. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2006. Trabalho de Conclusão de Curso.
A revista Segurança Alimentar e Nutricional utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.