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“Disputar a ‘nega”
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Palavras-chave

“Disputar a ‘nega’”
Gênero
Raça
Classe
Discursos

Como Citar

OLIVEIRA, Maria Regina de Lima Gonçalves; PEREIRA, Ariovaldo Lopes. “Disputar a ‘nega”: uma análise da expressão popular na perspectiva dos estudos de gênero, discurso, raça e classe social. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 60, n. 1, p. 96–104, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8661761. Acesso em: 6 dez. 2024.

Resumo

Este artigo objetiva discutir a expressão “disputar a ‘nega’” – que integra o universo cultural de muitas regiões do Brasil e constitui práticas sociais em contextos de competir em jogos diversos – na perspectiva dos estudos de gênero, discurso, raça e classe social. Para tanto, nos aportamos teoricamente em autoras e autores que problematizam as relações de gênero de forma interseccional, destacando outras dimensões que perpassam essa categoria, tais como raça, classe, sexualidade, etnia etc. São trazidos à cena teórica os estudos de Angela Davis (2016) e Heleieth Saffioti (2013) sobre gênero, raça e classe e os apontamentos de Norman Fairclough (1998; 2001; 2003) sobre discurso, dentre outros. Intentamos, com isso, usando como ferramenta de análise os princípios da Análise de Discurso Crítica – ADC (FAIRCLOUGH, 2001, 2003; VIEIRA; RESENDE, 2016; MAGALHÃES, 2000), descortinar os discursos ideológicos que subjazem à expressão “disputar a ‘nega’”, bem como compreender sua raiz cultural e histórica, haja vista que a pessoa que é objeto da disputa é uma mulher negra cujo corpo é oferecido como prêmio ao vencedor, sendo, assim, objetificado, subalternizado e instrumentalizado, seguindo a lógica de uma sociedade patriarcal em que o corpo da mulher, e da mulher negra em especial, é usado primordial e essencialmente para servir ao homem em suas necessidades físicas e emocionais. Neste estudo, nos pautamos na concepção butleriana de gênero, por concordarmos que a constituição dessa categoria se dá mediante os confrontos culturais e sociais reiterados cotidianamente pelas práticas discursivas. Em outras palavras, trata-se da preponderância do discurso na constituição dos sujeitos, dado que nos constituímos a partir da outra, do outro. Ao propormos o estudo da expressão em ênfase na perspectiva da análise interseccional (SCOTT, 1994; BUTLER, 2016; DAVIS, 2016), percebemos que a interseccionalidade de gênero, permeada por outros marcadores sociais, evidencia a subalternização feminina, visto que a categoria mulher, sobretudo a negra e pobre, permanece, ainda nos dias atuais, em condição de objetificação, marginalização e subalternização na sociedade.

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