Resumo
Documentos oficiais relacionados à Lei 10639/03 dispõem orientações gerais para sua implementação nas instituições de ensino superior. Porém os cursos de formação de professores de inglês ainda carecem de fundamentos específicos e práticos para a abordagem do conteúdo da Lei no ensino deste idioma. Isso significa que muitos/as professores/as de inglês em exercício não se apropriaram de conhecimentos teórico-metodológicos para trabalharem questões raciais em suas aulas (FERREIRA, 2006). Este artigo consta da descrição de conteúdos, metodologia e teorizações derivadas das aulas de um curso de extensão sobre as questões étnico-raciais e culturas de matriz africana no ensino de inglês. Neste curso, estiveram envolvidos 8 professores/as de inglês atuantes na educação básica e superior de Salvador (BA), e teve a duração de 45h. Gradativamente, como uma contingência do grupo, parte das aulas voltou-se para o compartilhamento de narrativas de discriminação. O evento levou-me a constatação da importância da fala como mecanismo de consolação do sofrimento, assim como insumo fundamental para o redimensionamento das identidades sociais raciais dos/as docentes. Instaurou-se, assim, o momento healing storytelling como parte metodologicamente necessária desta formação. A experiência não só ofereceu base teórica para os/as professores/as abordarem as questões sociais, históricas e culturais referentes ao negro quanto aguçou sua percepção para eventos cotidianos de racismo que já haviam assistido, escutado ou vivenciado dentro e fora da sala de aula. A identidade social racial do/a sujeito/a professor/a parece determinante da forma com a qual ele/ela compreende as questões étnico-raciais e de como se posicionam diante desses temas.
Referências
ALMEIDA, S. (2019). Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Pólen.
BENTO, M. A. S. (2002). Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (Org.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes.
BRASIL, M. E. (2003). Lei n.° 10639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF. 9 jan. 2003 Disponível em:
gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm > Acesso em: 30 set. 2020.
BRASIL, M.E. (2004). Parecer do Conselho Nacional de Educação n.º 3 (CNE03/2004). Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 10 mar. 2004 Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cnecp_003.pdf> Acesso em: 10 Out. 2020.
BRASIL, M. E. (2004). Resolução n.º 1, de 17 de junho de 2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 17 Jun. 2004 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf Acesso em: 10 Out. 2020.
CARDOSO, L. Branquitude acrítica e crítica: supremacia racial e o branco anti-racista. 1 Jun. 2010. Disponível em: < art.LourencoCardoso.pdf (clacso.edu.ar) > Acesso em: 5 Dez. 2020.
CARR, W.; KEMMIS, S. (1998). Teoria crítica de la enseñanza. Barcelona: Martins Roca.
CRENSHAW. K. (1991). Mapping the Margins: intersectionality, identity politics, and violence against Women of Color, 11 Jul. 1991. Disponível em : <https://www.racialequit ytools.org/resourcefiles/mapping-margins.pdf> Acesso em: 15 Out. 2020.
D’ADESKY, J. (2005). Pluralismo étnico e multiculturalismo: racismo e antirracismos no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas.
ELLIOT, J. (1989). Educational theory and the professional learning of teachers: an overview. Cambridge journal of education v.19, n.1, p.82-101.
FANON, F. (2008). Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA
FREIRE, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.
GILROY, Paul. (2001). O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Ed.43.
GRIMMETT, P. (1998). Introduction. In: GRIMMETT, P.P.; ERICKSON, G.L. (Org.) Reflection in teacher education. New York: Teachers College Press.
RAJAGOPALAN, K. (2003). Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial.
FERREIRA, A. J. (2006) Formação de professores Raça/etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino. Cascavel: Coluna do Saber.
FERREIRA, A. J. (2015). Letramento racial crítico através de narrativas autobiográficas: com atividades reflexivas. Ponta Grossa: Estúdio Texto.
FERREIRA, R. F. (2004). Afro descendente: identidade em construção, São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas.
hooks, b. Teaching critical thinking: practical wisdom. New York/London: Routledge, 2010.
LADSON-BILLINGS, G. (2006). Race and TESOL: introduction to concepts and theory. Cambridge University Press, p.471-489.
LADSON-BILLINGS, G. (2009). Just what is critical race theory and what’s it doing in a nice field like education? In: TAYLOR, Ed.; LADSON-BILLINGS, G.; GILLBORN, D. Foundations of Critical Race Theory in Education. New York: Routledge, p.17-36.
MOITA LOPES, L. P. (1996) Oficina de linguística aplicada: a natureza social e educacional dos processos de ensino e aprendizagem. Campinas, SP: Mercado de Letras,
PENNYCOOK, A. (1994). The Cultural Politics of English as an International Language. London: Longman.
RAJAGOPALAN, K. (2003). Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial.
SILVA, A. C. (2001). Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA.
SOLORZANO, D. G.; YOSSO T. J. (2005). Critical Race Methodology: counter-storytelling as analytical framework for educational research. In: In: TAYLOR, E.; LADSON-BILLINGS, G.; GILLBORN, D. (Ed.) Foundations of Critical Race Theory in Education. New York: Routledge, p.131-147.
THIOLLENT, M. (19b6). Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores Associados.
TRIPP, D. (2005). Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n.3, p. 443-466.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2021 Trabalhos em Linguística Aplicada