Banner Portal
O branqueamento enquanto projeto brasileiro de nação e seus reflexos em narrativas de mulheres negras subalternizadas
PDF

Palavras-chave

Análise da Narrativa
Negritude
Branqueamento
Gênero

Como Citar

LIMA, Fábio Fernando. O branqueamento enquanto projeto brasileiro de nação e seus reflexos em narrativas de mulheres negras subalternizadas. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 61, n. 1, p. 180–196, 2022. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8664899. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

Partindo do quadro teórico oferecido pela Análise da Narrativa, este trabalho busca analisar e descrever narrativas de histórias de vida de mulheres negras, pobres, atendidas por programas socioassistenciais, observando as maneiras pelas quais essas mulheres constroem suas identidades e operam discursivamente com determinados aspectos normativos instituídos socialmente acerca do atravessamento “raça” – sobretudo os discursos acerca de uma suposta “ausência de racismo” e o ideal hegemônico de “branqueamento”. Utilizando a entrevista qualitativa como ferramenta de pesquisa, os resultados apontaram para um imbricamento entre os atravessamentos “raça”, “gênero” e “classe social”, comprovando a necessidade apontada pelas teorias interseccionais de gênero em geral e pelo feminismo negro contemporâneo em particular de se considerar o sujeito social sempre interseccionado por tais atravessamentos. Considerando ainda que em todas as entrevistas a existência do racismo é afirmada, coloca-se em questão o mito da democracia racial existente no senso comum e, ainda, ratifica-se a importância atribuída pelo feminismo negro acerca da necessidade de observação de experiências enunciadas por outros lugares de fala subalternizados, distantes das posições hegemônicas. Ademais, em todas as entrevistas analisadas, sobretudo nas avaliações que emergiram nas narrativas, a questão da cor da pele foi performada como um “estigma”, um traço profundamente depreciativo, alicerçado na naturalização da branquitude. No entanto, se nas narrativas de mulheres com idade mais avançada a ideologia do branqueamento não é questionada, nas “avaliações” das narrativas analisadas provenientes de entrevistadas mais jovens observamos o branqueamento hegemônico concorrendo com novos elementos, caracterizados por estabelecer fissuras significativas sobre aspectos normativos acerca da negritude.

PDF

Referências

ANDRADE, F. (2018). “Mas vou até o fim”: narrativas femininas sobre experiências de amor, sofrimento e dor em relacionamentos violentos e destrutivos. Tese de Doutorado em Antropologia Social. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, USP, São Paulo.

BARBOSA, L. C. (2014). Identidade, Estigmas e Branquitude: Reflexões sobre a mídia brasileira. Revista Interação. v. 1, nº 1, p. 59-73.

BASTOS, L. C. (2005). Contando estórias em contextos espontâneos e institucionais – uma introdução ao estudo da narrativa. Calidoscópio, v. 3, n. 2, p. 74-87.

BASTOS, L. C. ; SANTOS, W. S. (2013). Introdução: Entrevista, narrativa e pesquisa. In: BASTOS, L. C.; SANTOS, W. S. (orgs), A entrevista na pesquisa qualitativa. Rio de Janeiro: Quartet/Faperj, p. 9-18.

BASTOS, L. C. ; BIAR, L. A. (2015). Análise de narrativa e práticas de entendimento da vida social. DELTA, v. 31, n. especial, p. 97-126.

BENTO, M. A. (2002a). Pactos narcísicos no racismo: Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese de doutorado em Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, USP, São Paulo.

BENTO, M. A. ; (2002b). Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (orgs), Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, p. 25-58.

BIAR, L. (2012). “Realmente as autoridades veio a me transformar nisso”: narrativas de adesão ao tráfico e a construção discursiva do desvio. Tese de Doutorado em Estudos da Linguagem. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, PUC-Rio, Rio de Janeiro.

BIAR, L. ; ORTON, N.; BASTOS, L. C. (2021). Tales from the South: doing Narrative Analysis in a “post-truth” Brazil. Narrative Inquiry. v. 22, edição on-line, p. 1-21.

CARDOSO, L. (2010) Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Rev. latinoam. cienc. soc. niñez juv., v. 8, n. 1, p.607-630.

CARDOSO, L. ; (2014). O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil, Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, UNESP, Araraquara.

CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (2019). Psicologia Social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petropolis: Vozes.

COLLINS, P. H. (2019). Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo Editorial.

COLLINS, P. H. . (2017). Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória. Revista Parágrafo. v. 5, n. 1, p.6-17.

COLLINS, P. H. . (2016). Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Sociedade e Estado. v. 31, n. 1, p. 99-127.

COLLINS, P. H. ; BILGE, S. (2016). Intersectionality. Cambridge: Polity Press.

CRENSHAW, K. (1989). Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. The University of Chicago Legal Forum. n. 140, p.139-167.

BORGES, T. R. S. (2020). Modos Queer de pesquisar e a questão racial: conjugando epistemologias feministas, interseccionalidade e decolonialidade. Cadernos De Linguagem e Sociedade. v. 21, n. 2, p. 435-451.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (2006). Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K. LINCOLN, Y. S. (orgs.), O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, p. 15-41.

FABRÍCIO, B. F. (2006). Linguística Aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (org.), Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, p. 45-65.

FAIRCLOUGH, N. (1995). Critical Discourse Analysis: the critical study of language. London and New York: Longman.

FOUCAULT, M. (1996). A Ordem do Discurso. Tradução: Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Loyola.

GEE, J. P. (2005). An introduction to Discourse Analysis: theory and method. London/New York: Routledge.

GOFFMAN, E. (1988). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara.

LABOV, W. (1972). Language in the inner city: studies in the Black English Vernacular. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.

LABOV, W. ; WALETZKY, J. (1967). Narrative Analysis: oral versions of personal experience. In: HELM, J. Essays on the verbal and visual arts. Seattle: University of Washington Press, p. 12-44.

LINDE, C. (1993). Life stories. The creation of the coherence. Nova York: Oxford University Press.

LINDE, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In: GUNNARSSON, B. L.; LINELL, P.; NORDBERG, B. (orgs.), The construction of professional discourse. Londres: Longman, p. 151-172.

LODER, L. L. (2008). O modelo Jefferson de transcrição: convenções e debates. In: LODER, L. L.; JUNG, N. M (orgs.), Fala-em-interação social: introdução à Análise da Conversa Etnometodológica. Campinas: Mercado de Letras, p. 127-160.

MELO, G. C. V. (2020). Discursos sobre raça: quando as Teorias Queer nos ajudam a interrogar a norma. Cadernos de Linguagem e Sociedade. v. 21, n. 2, p. 410-434.

MELO, G. C. V. ; MOITA LOPES, L. P. (2015). “Você é uma morena muito bonita”: a trajetória textual de um elogio que fere. Trabalhos em Linguística Aplicada. vol. 54, n. 1, p. 53-78.

MISHLER, E.G. (1986). The analysis of interview-narratives. In SARBIN, T. R. (org.), Narrative Psychology. The storied nature of human conduct. New York: Praeger.

MISHLER, E.G. (2002). Narrativa e identidade: a mão dupla do tempo. In: MOITA LOPES, L. P; BASTOS, L. C. (orgs.), Identidades: recortes multi e interdisciplinares. Campinas: Mercado das Letras, p. 97-119.

MOITA LOPES, L. P. (2001). Práticas narrativas como espaço de construção das identidades sociais: uma abordagem socioconstrucionista. In: RIBEIRO, B. T.; LIMA, C. C.; DANTAS, M. T. L. (orgs.), Narrativa, identidade e clínica. Rio de Janeiro: Ipub.

MOITA LOPES, L. P. (2006). Linguística Aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola.

MUNANGA, K. (2004). A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil. Estudos Avançados. v. 18, n. 50, p. 51-57.

PENNYCOOK, A. (2004). Critical applied linguistics. In: DAVIES, A.; ELDER, C. (org.), The handbook of applied linguistics. Oxford: Blackwell, p. 397-420.

RIBEIRO, D. (2017). O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento: Justificando.

SILVA, A. C. (2007). Branqueamento e branquitude: conceitos básicos na formação para a alteridade. In: NASCIMENTO, A. D.; HETKOWSKI, T. M. (orgs.), Memória e formação de professores. Salvador: EDUFBA, p. 87-101.

SOVIK, L. (2004). Aqui ninguém é branco: Hegemonia branca e media no Brasil. In: WARE, V. (org.), Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond.

SCHNEIDER, A. L. (2012). Iberismo e luso-tropicalismo na obra de Gilberto Freyre. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 5, n. 10, p. 75-93, 2012.

SCHILLING, F.; MIYASHIRO, S. G. (2008). Como incluir? O debate sobre o preconceito e o estigma na atualidade. Educação e Pesquisa. v.34, n.2, p. 243-254.

WALLERSTEIN, I. (1990). World-System Analysis: The Second Phase. Review, v. XIII, n. 2, p. 287-93.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2022 Trabalhos em Linguística Aplicada

Downloads

Não há dados estatísticos.