Resumo
Uma breve leitura das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dos últimos anos revela-nos que, em fricção com discursos da tradição literária brasileira, servem de objeto de análise das questões da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias textos literários que se assentam em práticas discursivas de reexistência. Nesse sentido, à luz da Linguística Aplicada Indisciplinar, das teorias dos Letramentos e da abordagem teórico-metodológica da Análise Dialógica do Discurso, este artigo visou a investigar quais letramentos literários são (des)legitimados nas questões do Enem construídas a partir de textos literários que se constituem estética e discursivamente como discursos de reexistência. Para tanto, tomamos como base para a construção de nosso corpus as provas do Enem aplicadas nos anos de 2018, 2019 e 2020. Como conclusão, é possível afirmar que, apesar da relativa presença de textos literários de reexistência nessas provas, percebem-se ainda fricções entre abordagens de letramentos mais tradicionais e aquelas abertamente ideológicas.
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