Resumo
A Teoria Queer surgiu na virada do milênio (BOONE, 2000) e se desenvolveu nas últimas décadas junto com a virada afetiva nas ciências humanas e sociais (CLOUGH, 2007). Também por influência da mesma virada, os Estudos da Tradução começaram a se interessar cada vez mais por questões relacionadas à afetividade e, dentre essas questões, observamos o desenvolvimento dos Estudos da Tradução Queer, abordados por Brian James Baer no livro intitulado Queer Theory and Translation Studies: language, politics, desire.
Alguns teóricos dos Estudos da Tradução, como Hermans (2006), já demonstravam bastante interesse em analisar a tradução do “outro”. Porém, o conceito de “outro” abrangia apenas diferentes culturas e nacionalidades, até então sem considerar identidades que fogem da normatividade sexual e de gênero. Baer e Kaindl (2017), no entanto, afirmam que os Estudos da Tradução e a Teoria Queer se misturam, já que a Teoria Queer reflete sobre a representação do “outro”, enquanto a tradução possibilita que o “outro” seja trazido para a luz.
Segundo Baldo (2018) e Baker (2013), a afetividade é mais perceptível em textos politicamente engajados, como é o caso de traduções LGBTQIAP+. O ato de traduzir e publicar um texto queer, por si só, pode ser uma forma de resistência a uma sociedade preconceituosa. Além disso, a pessoa tradutora que faz parte da comunidade LGBTQIAP+ está afetivamente conectada ao conteúdo de textos queer e, em sociedades reprimidas, a tradução pode ser uma forma de produzir literatura queer sem o risco de revelar-se fora da heteronormatividade (LEWIS, 2010). Considerando a evidente relação entre a virada afetiva e o desenvolvimento dos Estudos da Tradução Queer acredito que o presente dossiê teria a ganhar com uma resenha desta obra inédita de Brian James Baer (2021), professor de Estudos da Tradução na Kent State University e editor fundador da revista Translation and Interpreting Studies.
Referências
CASTRO, Olga. (2017) (Re)examinando horizontes nos estudos feministas de tradução: em direção a uma terceira onda?. Tradução: Beatriz Barbosa. TradTerm, vol. 29, n. julho, p. 216-250.
HARVEY, Keith. (2000) Gay Community, Gay Identity and the Translated Text. TTR: Traduction, Terminologie, Rédaction, v. 13, n. 1, , p. 137-165.
SNELL-HORNBY, Mary. (2006) The Turns of Translation Studies: New Paradigms or shifting viewpoints? Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.
TYMOCZKO, Maria. (2000) Translation and Political Engagement: Activism, Social Change and the Role of Translation in Geopolitical Shifts. The Translator, v. 6, n. 1, p. 23-47.
von FLOTOW, Luise. (2013) Traduzindo Mulheres: de histórias e re-traduções recentes à tradução ‘Queerizante. Tradução: Tatiana Nascimento dos Santos. In: BLUME, Rosvita; PETERLE, Patricia (eds). Tradução e Relações de Poder. Tubarão: Copiart, p. 169-172.
WOLF, Michaela. (2013) A “vontade de poder”: tradução no campo de tensão entre poder e ética. Tradução: Rosvitha Friesen Blume. In: BLUME, Rosvitha.; PETERLE, Patricia. (Orgs.) Tradução e relações de poder. Florianópolis: PGET/UFSC, p. 149-168.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2023 Thayna Pinheiro Ferreira (Resenhista)