Resumo
A tradução para legendas a tradução audiovisual (TAV) como um todo, enquanto práticas linguísticas, desempenham um papel crucial na formação do imaginário social e na construção de identidades. No entanto, pouca atenção tem sido direcionada para a tradução de documentários, principalmente aqueles produzidos no chamado Sul “global” e traduzidos para outras línguas, como o inglês. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo aprofundar a compreensão da tradução de documentários, mais especificamente com foco na tradução para legendas sob uma perspectiva transnacional, explorando a interligação entre tradução e estudos feministas. Abordaremos a importância da escuta atenta do tradutor como fator crítico na tradução de documentários produzidos a partir de narrativas pessoais. O objeto de análise compreende trechos de legendas, áudio e frames extraídos de documentários brasileiros que narram a vida e as experiências de trabalho de catadoras e catadores de materiais recicláveis (incluindo mulheres negras) em contextos de extrema pobreza. A pesquisa propõe um paralelo entre o mito de Pandora e suas diversas traduções e interpretações, bem como as representações da mulher nas versões legendadas dos documentários, sugerindo, assim, que tal perspectiva teórica pode lançar luz sobre como as palavras e obras das mulheres podem se tornar férteis em suas diferenças e possivelmente em seus desvios.
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Filmography
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ILHA das Flores. Direção: Jorge Furtado. Brasil: Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989 (13 min.).
LIXO Extraordinário. Direção: Lucy Walker. Brasil: 02 Filmes, 2009. (99 min.).
O Lixo Nosso de Cada Dia. Direção: Fernanda Barban. Brasil: Casa Rosa Filmes, 2020. ((38 min.).
RESTOS. Direção: João Batista de Andrade. Brasil: Grêmio da Faculdade de Filosofia da USP, 1975. (10 min.).
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