Resumo
Este artigo, oriundo dos resultados de pesquisa de iniciação científica realizada na UFPE (2015-2016), pesquisa esta por sua vez, vinculada a projeto contemplado pelo Edital Universal do CNPq (chamada nº 14/2013), tem como objetivo analisar as falas de gestores, docentes da disciplina de Ensino Religioso (ER) e representantes das secretarias de educação municipal e estadual da cidade de Recife sobre questões de gênero e sexualidade, entrecruzando esse debate à relação laicização e religião. Assim buscou-se compreender como são construídos discursivamente significados em torno das temáticas mencionadas, destacando o lugar que mulheres sexualmente marginalizadas como lésbicas, bissexuais e transexuais ocupam dentro das cosmologias religiosas trabalhadas no espaço curricular dessa disciplina. A análise do material, feita a partir de concepções teóricas de gênero e sexualidade pós-estruturalistas e de um exame metodológico apoiado na Análise de Discurso (AD) francesa, revelou a presença de um discurso hegemônico que invisibiliza conteúdos sobre gênero e sexualidade nas aulas de ER, reforçando posturas estigmatizantes, muito preocupantes, sobretudo nos dias atuais em que essas discussões correm o risco de não serem mais trabalhadas nas escolas públicas, devido, entre outros fatores, a posições de grupos religiosos, especialmente os de vertente pentecostal e neopentecostal.
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