Resumo
Este artigo apresenta alguns pressupostos éticos, teóricos e metodológicos que reconhecem a pesquisa acadêmica como uma aposta ética do cuidado de si. Seguindo o itinerário intelectual de Michel Foucault o artigo aproxima-se do percurso que o filósofo faz pela Antiguidade grega e romana em que reconhece experiências de subjetivação ligadas a uma ética de cuidado de si. Foucault reconhece um deslocamento entre a relação de subjetividade e verdade da Antiguidade com a da moral Moderna, que a partir das ciências dos homens, reconhece o conhecimento de si, aquele atrelado à identidade, como capaz de instaurar a verdade sobre os sujeitos. Esse conhecimento como capaz de fixar e naturalizar os modos de existir, modos de subjetivação que tem como referência o sujeito ideal de conhecimento. A partir da aproximação com os gregos e romanos Foucault reconhece outras experiências de subjetivação, outro regime de relação do sujeito com a verdade, em que sujeito e verdade não estão vinculados pelo exterior (como por exemplo aquela prescrita pela ciência e o cristianismo), mas por uma estilística de existência. Diante disso, levantamos algumas pistas sobre as possibilidades de pensarmos sobre os processos de pesquisa como uma aposta ética do cuidado de si, em que se reconhece a pesquisa acadêmica como efeito dos afetos produzidos nos encontros e não ao contrário como defendem algumas racionalidades que partem dos pressupostos de que pesquisadora e pesquisa são produtos distintos e que é possível estabelecer a neutralidade entre ambas.
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