Resumo
Partindo da interpretação deleuziana do empirismo de Hume, o artigo visa a apreender a elaboração por Deleuze da primeira síntese do tempo, a síntese do hábito, a partir da constituição de um sujeito que contempla e contrai as percepções sensíveis, ultrapassando o dado a partir da ação de princípios que lhe são exteriores. A contração do passado e a expectativa em relação ao futuro são as duas dimensões do mesmo presente vivido. É pela contração pelo hábito que a repetição produz uma diferença no espírito e assim nos produz como sujeitos. Sobre a síntese passiva do hábito virão desdobrar-se as sínteses ativas da memória e da reflexão. Desde a análise da obra de Proust, Deleuze desenvolve, então, o tema desse encontro com o fora como a produção no sujeito de uma capacidade de explicitar o sentido do que se apresenta como um signo, o que implica ultrapassar as ilusões objetivistas e subjetivistas e a busca do sentido numa diferença interiorizada que é o próprio ser em si do passado. Daí decorre ir para além da dimensão empírica do tempo e encontrar uma nova síntese do tempo, a síntese transcendental da memória, em que o passado não sucede ao presente, mas coexiste com ele.
Referências
DELEUZE, G. Diferença e repetição. Trad. Luiz Orlandi; Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Graal, 1988.
DELEUZE, G. Différence et répétition. 10. ed. Paris: PUF, 2000.
DELEUZE, G. Empirismo e subjetividade: ensaio sobre a natureza humana segundo Hume. Trad. Luiz Orlandi. São Paulo, SP: 34, 2001.
DELEUZE, G. Proust e os signos. Trad. Antonio Carlos Piquet; Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Forense-Universitária, 1987.
HUME, D. Tratado da natureza humana. Trad. Déborah Danowski. São Paulo, SP: UNESP, IOE, 2001.
PROUST, M. Nos caminhos de Swann. Trad. Mário Quintana. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1979.
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