We write samba on the wild asphalt
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Palavras-chave

Malandragem
Cultura Afro-Brasileira
Ditaduras
Carnaval
Samba

Como Citar

QUERIN , Camilla. We write samba on the wild asphalt: Malandragem as practice of resistance in the work of Heitor dos Prazeres and Hélio Oiticica. MODOS: Revista de História da Arte, Campinas, SP, v. 6, n. 1, p. 433–469, 2022. DOI: 10.20396/modos.v6i1.8668051. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/mod/article/view/8668051. Acesso em: 8 out. 2024.

Resumo

A importância da subida ao Morro da Mangueira na carreira de Hélio Oiticica foi consideravelmente estudada e transformada em mito enquanto a dívida de seu trabalho em relação à cultura Afro-Brasileira começou recentemente a receber atenção. No entanto, o conjunto da sua obra não foi minuciosamente examinado através da lente da malandragem, do uso de truques para enganar pessoas em posições de poder e restaurar uma noção temporária de justiça. Interpreto a malandragem como um legado da resistência dos escravizados africanos e seus descendentes contra o colonialismo, a escravidão, e a opressão. Neste artigo, analiso a obra de Heitor dos Prazeres, um artista Afro-Brasileiro da geração anterior, cujo trabalho foi rotulado de “naïf” e “primitivo” e, portanto, apagado da história da arte moderna. Apesar de que pareça inusitado comparar a obra de um pintor figurativo como dos Prazeres com a de Oiticica, um artista que nunca produziu arte representativa, e até mesmo declarou a morte da pintura e dedicou a sua carreira à transposição da pintura no espaço e no tempo, na verdade a cultura da malandragem aproxima as suas obras. Pintor e compositor de sambas, dos Prazeres foi fundamental para estabelecer as referências do ambiente cultural em que Oiticica se inspiraria na década de 1960, no qual o samba é apenas um elemento. Heitor dos Prazeres usou a malandragem para curvar as barreiras sociais e se infiltrar em um mundo cultural hostil durante o Estado Novo (1937-1945) e nas décadas sucessivas. Suas táticas deveriam ser consideradas precursoras das estratégias utilizadas por artistas para expressar dissidência durante a ditadura militar (1964-1985), como no caso de Hélio Oiticica.

https://doi.org/10.20396/modos.v6i1.8668051
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