Resumo
Há pouco mais ou menos de uma década, o populismo e as redes sociais têm sido questões relevantes, tanto no meio acadêmico como na esfera pública. Neste ponto, os dados de vários países sugerem que a percepção de paralelos entre a dinâmica das redes sociais e a mecânica do discurso populista pode ser mais do que meramente acidental, relacionada a um campo estrutural partilhado. Este artigo sugere um caminho possível para dar sentido à forma como as dinâmicas das redes sociais e a mecânica da mobilização populista têm se coproduzido na última década. Navegando na interface entre a antropologia e a linguística, o texto parte de aspectos chave da noção de liminaridade de Victor Turner para sugerir algumas das formas pelas quais affordances anti-estruturais das mídias sociais podem ajudar a estabelecer uma base para o florescimento contemporâneo do discurso populista: os marcadores da estrutura social são suspensos; a comunitas é formada; o núcleo cultural é abordado; a mimese e as inversões anti-estruturais são realizadas; os sujeitos tornam-se influenciáveis. Desenvolvo esta afirmação com base em materiais brasileiros, extraídos de etnografia online em grupos pró-Bolsonaro no WhatsApp e em outras plataformas, como Twitter e Facebook, desde 2018.
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