Resumo
Neste trabalho é apresentada a experiência de um workshop sobre línguas indígenas brasileiras, realizado no contexto de um curso de inglês oferecido em uma universidade pública. Esses dados são parte de pesquisa sobre afetividade e ensino de inglês. Nesse sentido, buscou-se identificar e analisar os impactos afetivos que essa experiência produziu nos estudantes, a partir de suas produções textuais sobre o workshop. Compreende-se que as relações que se estabelecem entre sujeitos e objetos de conhecimento dependem, fundamentalmente, das práticas concretas de mediação desenvolvidas por agentes mediadores, as quais têm implicações tanto afetivas quanto cognitivas (LEITE, 2018). Assume-se uma visão discursiva da linguagem (BAKHTIN, 1929) e defende-se que o ensino-aprendizado de língua inglesa tem caráter formativo e deve considerar a natureza dialética da constituição do sujeito, da linguagem e da cultura, (ROCHA, 2012). Os dados indicam a aula de inglês como rica possibilidade para a discussão de temas sobre cultura, identidade e discurso. Com a experiência descrita neste trabalho – a discussão sobre línguas indígenas brasileiras, sobre a história dos povos indígenas e sua luta para preservação de suas línguas – os estudantes tiveram oportunidade de refletir sobre suas próprias língua e cultura e sobre seu processo de aprendizagem de inglês. A análise dos dados evidencia que as implicações desta experiência não cognitivas, mas também afetivas, podendo influenciar nas relações que se estabelecem entre estudantes e a língua inglesa, além de possibilitar uma aprendizagem crítica. Defende-se que o ensino de línguas deve tratar de temas como o descrito neste trabalho para que se alcance uma educação linguística antirracista, que, por sua vez, contribui para que se estabeleçam relações afetivas positivas com a língua estrangeira.
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