Resumo
Com base em algumas teorizações de Michel Foucault sobre as artes visuais, o presente artigo tenciona prospectar possíveis contribuições ao ensino da arte. Ao rastrear os escritos do pensador francês e de alguns comentadores seus sobre a temática, destaca-se a questão da relação disjuntiva entre imagem, palavra e representação. Sabe-se que a imagem é uma espécie de pedra de toque do ensino da arte desde pelo menos a criação das Academias de Belas-Artes e, no caso do ensino da arte no Brasil, figurou de maneira sistematizada a partir do final da década de 1980, com a chamada Proposta Triangular. Mais recentemente, por meio das abordagens intercultural, multiculturalista e da cultura visual, atesta-se o pleito da expansão da noção de imagem no ensino das artes visuais. Propor uma mirada, sob a ótica foucaultiana, sobre a relação não complementar entre imagem e palavra permite, ao fim e ao cabo, que a temporalidade das imagens desponte, alterando a natureza do que é visto e de quem o vê, no sentido contrário ao da suposição representacional de um testemunho fiel ou ainda de um reconhecimento classificatório universal. Daí que, na companhia de Didi-Huberman, é possível concluir que ver as imagens, no tempo, é estar diante do arquivo do mundo. Em suma, é nossa própria experiência que ali ganha força.
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